Fugas - dicas dos leitores

Fajã do Santo Cristo

Por Gonçalo Girão

A minha dica para o passatempo Fugas faz precisamente jus ao conceito de evasão. Isto porque uma pessoa não só foge do local onde reside e em que na maioria dos casos vive freneticamente o seu quotidiano mas também porque não será evidente continuar ligado ao mesmo durante o período que se ausentar. Por outras palavras, a minha dica para fuga, permite não ter de ouvir o telemóvel a tocar. É que neste refúgio poucos são os sítios em que se capta rede no telemóvel. Esta é, na minha opinião, uma particularidade que permite fugir e de facto viajar para o desconhecido que reside dentro de cada um de nós, rumo à introspecção, à reflexão estratégica, ao que cada um desejar. Aqui, o batimento cardíaco desacelera até, passados uns dias, estabilizar no ponto óptimo da serenidade.

Como 70% do corpo humano é composto por água, nada melhor do que estar, na verdadeira acepção da pala, rodeado de água. A minha dica para a Fugas situa-se pois, está claro, numa ilha em pleno Oceano Atlântico. Mais concretamente, na ilha de São Jorge que se situa no Grupo Central do Arquipélago dos Açores. Uma vez chegado a São Jorge, dirige-se à costa Norte da ilha, para aceder ainda de carro a uma fajã, que, segundo a definição, é uma pequena planície junto ao mar.

Com o seu carácter de microcosmos encaixados pelo mar e pelas falésias, e com a relação que estabelecem entre o mar e a montanha, as fajãs fazem da Ilha de São Jorge uma das mais belas do Arquipélago Açoriano, criando espaços carregados de encanto e mistério. Onde a realidade esmaga a imaginação e após percorrer durante mais de uma hora a pé um trilho apenas ladeado, apenas e apenas só, pelo Atlântico profundo e falésias verdejantes empolgantes, estará a Fajã do Santo Cristo também familiarmente conhecida como Fajã da Caldeira.

Um lugar inalcançável por veículos automóveis protege aí uma lagoa rodeada de segredos e magia, lagoa esta muito conhecida pelas suas amêijoas. Esta fajã é ainda muito procurada pelos amantes de Surf, Windsurf e Bodyboard, que encontram neste spot excelentes condições para a prática destes desportos. Durante a sua estadia um visitante poderá passear de barco no mar e/ou na lagoa, fazer trilhos a  pé, praticar  desportos de ondas, nadar na Lagoa, visitar a Furna  do Poio, pescar, fazer pesca submarina, aproveitar as cascatas para um banho gelado ou simplesmente descansar e meditar beneficiando de uma tranquilidade excepcionalmente terapêutica e da qual muito provavelmente jamais teve o prazer de antes beneficiar.

Em termos gastronómicos, não só a carne é da melhor qualidade como também o peixe é fresquíssimo. A destacar estão também os produtos lacticínios em que o Queijo da Ilha também conhecido como Queijo de São Jorge, que é outro produto exclusivo da Ilha de São Jorge, é proeminente. As condições edafo-climáticas excelentes para a produção de pastagem existentes na ilha e a introdução, ainda antes do seu povoamento, de gados, fizeram com que, desde o início, os habitantes recorressem ao fabrico de queijos como reserva alimentar e forma de aproveitamento do excesso de produção de leite face ao seu consumo em natureza. Por outro lado, a especificidade dos queijos feitos em São Jorge, para além da perícia e dos saberes dos queijeiros jorgenses, é atribuível às características dos pastos abundantes nas zonas de média e elevada altitude, caracterizados pela existência na pastagem das chamadas ervas de misturas, uma combinação natural de gramíneas e leguminosas, que lhes dá particulares características que se reflectem nas propriedades organolépticas do leite ali produzido e traduzindo-se num sabor muito saboroso.

Por, por um lado, fazer jus ao conceito de Fuga e ser uma recomendação sustentável ao nível da união familiar e do bem-estar de quem visita este local e por, por outro lado, contribuir sobremaneira para o desenvolvimento económico da economia portuguesa em detrimento de optar por destinos além fronteiras, este é o meu destino de eleição. A sustentabilidade da minha dica traduz-se assim na possibilidade de juntar o útil ao agradável, indo para fora, cá dentro.

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