Fugas - dicas dos leitores

Lua-de-mel em Istambul

Por Pedro Serpa

Não sei se foi porque o transportava encavalitado às costas ou pelos seus olhos azuis. Pele clara, dez meses de vida e sorriso fácil certamente também ajudaram. Não havia pessoa que não olhasse, não risse ou se metesse com ele. Parecia uma verdadeira estrela de cinema a desfilar por Istambul.

O Hotel Nena em Sultanahmet fica excelentemente bem localizado. A dois passos da rua do eléctrico que percorre Istambul, fica contudo numa transversal com pouco reboliço. Ideal para umas férias de lua -de-mel em Istambul com o nosso bebé. Mas e a típica lua-de-mel a dois, com praia e sol num resort? Nem nos passou pela cabeça. Deixamos isso para mais tarde.

Istambul funde-se. Parece Ocidente mas tem perfume do Oriente. Imensas mulheres não usam lenço a cobrir os cabelos, mas o som das missas das mesquitas entra-se pelos nossos ouvidos vindo dos altifalantes. Istambul é a cidade de Pamuk. É a cidade dos gatos. Dos kebabs. De História. E das varandas, alpendres e terraços com vista para o impressionante movimento de barcos no Bósforo.

Istambul é uma cidade amiga de quem a visita. Com excepção dos táxis. Porque conduzem loucamente. Algumas das principais atrações distam pouco uma das outras, sugerindo que se ande a pé. Temos o Palácio Topkapi, mais à frente a Hagia de Sofia e a Mesquita Azul. Logo ao lado o antigo Hipódromo romano, um pouco mais à frente a Cisterna Basílica e já mais acima o Grande Bazar. De eléctrico atravessamos a ponte Galata apinhada de pescadores e chegamos ao palácio Dolmabahce, à beira do Bósforo. Subimos de elevador até à Praça Taksim. Percorremos a rua Istiktal, repleta de lojas de marcas famosas, de restaurantes e de cafés onde se fuma shisha. Sobe-se ao entardecer à Torre Galata e dois continentes deitam-se aos nossos pés. De ferrie vamos o lado Oriental, caminhar à beira-mar.

Istambul tem mercados fantásticos. Desde o mercado das especiarias, direccionado para os queijos, doces e para as inevitáveis especiarias, passando pelo Grande Bazar, que é simplesmente o maior mercado coberto do mundo, com as suas mais de 4000 lojas que vão desde as ourivesarias passando pelas lojas de vestuário, frutos secos e souvenirs. Aqui a atenção tinha de ser redobrada. Ao Henrique, às minhas costas, os vendedores ofereciam comida. Tâmaras, pistáchios e doces. Com receio que se engasgasse, lá íamos dizendo que ele não comia daquilo, que só bebia leite. Este último já só para não ofender os mais sensíveis. Às tantas, ouço um berro da Carolina. Viro-me à pressa e encaro com uma velhota, já curvada pela idade, de máscara na boca a fazer-lhe festas. Inevitável será dizer o que fizemos ao frasco de gel desinfectante que ainda restava da gripe A.

No Hotel, o recepcionista mete-se com o Henrique passando a mão pela cabeça. O bagageiro pergunta-lhe se quer chá. Ao pequeno-almoço, as duas incansáveis funcionárias derretem-se para ele, sempre que lhes é pedido para aqueceram comida ou o biberão. No último dia da nossa estadia, o cozinheiro oferece-lhe uma pulseira. Diz sorrindo que é o seu avozinho.

À noite, nas imediações do Hotel, perante a indecisão na escolha de um restaurante, o empregado oferece-lhe um colar de flores laranja.

É esta a maior recordação que levo de Istambul. De um povo hospitaleiro e simpático. É certo que teria visto mais de Istambul sem o Henrique. Mas também é certo que não a teria visto com estes olhos.
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