Fugas - dicas dos leitores

Pedro Mota Curto

No Mosteiro de Santa Maria de Seiça

Por Pedro Mota Curto

Para fugirmos ao bulício de Verão na Figueira da Foz, atravessámos a ponte sobre o rio Mondego, em direção ao Sul. A cerca de quinze quilómetros encontra-se a vila de Paião e nos seus arredores, em pleno ambiente rural, o antigo Mosteiro de Santa Maria de Seiça.
A sua construção remonta, pelo menos, ao século XII, tendo sido doado por D. Sancho I, em 1195, ao Mosteiro de Alcobaça. Integrado na Ordem de Cister, sofreu algumas remodelações ao longo dos séculos.

Após a extinção das Ordens Religiosas, em 1834, foi vendido a privados e desde essa data tem sido um exemplo de vandalismo diversificado e múltiplo, raiando, por vezes, os limites do absurdo.

No século XIX, parte da sua notável estrutura foi derrubada a fim de se construir uma linha de caminho de ferro, a actual linha do Oeste, que estabelece a ligação entre a Figueira da Foz e Lisboa. Actualmente, o comboio continua a passar a poucos metros do Mosteiro.

No século XX, foi construída e adaptada no seu interior uma fábrica de descasque de arroz. Pasme-se! Ao lado dos dois torreões da fachada principal foi construída uma enorme chaminé, hoje ocupada por um imponente ninho de cegonhas, uma vez que, entretanto, a fábrica foi desactivada, talvez em 1976. Ao longo de dezenas de anos, durante a maior parte do século XX, o Mosteiro de Santa Maria de Seiça funcionou como uma fábrica de descasque de arroz!

Hoje, o Mosteiro encontra-se num avançado estado de abandono e de degradação, tendo regressado ao domínio público, uma vez que foi adquirido pela Câmara Municipal da Figueira da Foz, no ano 2000, por duzentos mil euros.

O que resta da igreja, do claustro e de outras construções claustrais está hoje invadido por uma vegetação espessa de arbustos e de silvas. Os telhados e abóbadas estão em ruínas, tendo nos últimos anos ocorrido alguns desabamentos das coberturas.

No entanto, o robusto e multissecular mosteiro, tão antigo como a nacionalidade portuguesa, parece querer resistir. As duas oliveiras que crescem no cimo dos seus enormes torreões não parecem incomodar a idade das pedras que as suportam. A paisagem rural envolvente é de uma tranquilidade absoluta. Só as árvores são testemunhas dos novecentos anos de história do insólito, singular e desconhecido Mosteiro de Santa Maria de Seiça.

Fica-nos a esperança e a dúvida relativamente a uma possível recuperação desta progressiva ruína, assim como a satisfação de termos tido o privilégio de visitar um monumento que poderá um dia sucumbir, ou não, a tantos anos de abandono, desleixo, ignorância e vandalismo persistente.

Um país que não preserva a sua memória é um país que avança periclitante rumo ao seu incerto futuro.
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