Fugas - dicas dos leitores

Conhece a Igreja de Santa Maria Madalena?

Por Carlos Eduardo da Cruz Luna

Visita à igreja de Olivença, obra maior do séc. XVI português, celebrizada em 2012 por ter sido votada como «melhor recanto de Espanha»
A Igreja de Santa Maria Madalena, erguida por volta de 1520 em Olivença, é uma extraordinária construção manuelina (a segunda neste estilo em importância e dimensão, sendo a primeira, naturalmente, os Jerónimos), muitas vezes esquecida. As suas estruturas arquitectónicas são notáveis. Elementos góticos e mudéjares, bem como renascentistas, saltam à vista.
 
A igreja foi construída para ser sede do Bispado de Ceuta, já que uma Catedral desta importância na cidade norte-africana ficaria muito desprotegida, sempre à mercê dos ataques marroquinos. Além disso, Olivença, Campo Maior e Ouguela eram alvo de disputas entre vários bispados. A solução, que beneficiava, e muito, Olivença, foi criar uma unidade administrativa eclesiástica autónoma, com uma estranha concepção de espaço.
 
O primeiro bispo foi Frei Henrique de Coimbra, o homem que rezou a primeira missa no Brasil, e cujos restos mortais repousam numa urna de pedra junto ao altar da nave esquerda do templo. Pensa-se que este foi construído em várias etapas ao longo do século XVI. Diogo de Boytaca terá orientado o essencial (a abóboda, o arco triunfal, e as extraordinárias colunas toscanas, que simulam cordas (torsas), e que constituem uma das mais belas e surpreendentes surpresas artísticas do local). Terão sido os irmãos Arruda a cuidar da cobertura do corpo da igreja, bem como da fachada e de muitos dos seus elementos decorativos.

O interior consiste em três naves de diferentes alturas. São as oito colunas “cordiformes” que separam essas três naves. Os seus capitéis estão decorados com troncos entrelaçados.

Um gigantesco altar de talha dourada ergue-se ao fundo da igreja. Os elementos decorativos manuelinos são uma constante. No chão de mármore, inúmeras inscrições em português testemunham o local do repouso final de inúmeros oliventinos, com os seus nomes bem portugueses e muito facilmente identificáveis (Lobo, Gama, etc.). Como materiais, além das madeiras dos retábulos, destacam-se o calcário e os mármores.

Nos finais de 2012, a Igreja da Madalena ganhou um concurso promovido por uma empresa petrolífera espanhola, a Repsol, sendo eleita “el mejor rincón de España” por uma população que se uniu e votou em massa. Não deixa de ser uma curiosidade que uma igreja tão tipicamente manuelina (portuguesa) tenha ganho este concurso, mas, não se tratando de nada oficial, a contradição fica um pouco atenuada.

Nem mesmo o resultado deste insólito concurso levou a que muitos mais portugueses se interessassem (finalmente!) sobre os problemas culturais da região, nomeadamente pela preservação do muito que há de português na região. Um triste sinal dos tempos?

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