Fugas - dicas dos leitores

A beleza do céu estrelado no Sara marroquino

Por Helder Saraiva Taveira

“Ninguém deveria morrer sem ver, pelo menos uma vez na vida, o nascer do sol no deserto.”
No ano 2000, na passagem do milénio, fui com um grupo de amigos a Marrocos.
Em Algeciras, atravessamos de ferry o estreito de Gibraltar e depois de uma breve visita a Ceuta para recordar um pouco da nossa história — todos tínhamos na memória a data da sua conquista pelos nossos antepassados (1415) — entrámos em Marrocos.
 
No norte, Chefchaouen, cidade durante muitos anos fechada aos turistas, foi um encanto. Parecia que tínhamos recuado até à Idade Média e na verdade corria o ano de 1421 (segundo o calendário islâmico). Cada rua, cada esquina, cada pessoa que passava, parecia cenário de um filme. Na verdade, os marroquinos nesta cidade vestiam quase todos a roupa tradicional, que é o djellaba (jallaba em árabe, que significa atraente). É uma veste longa, larga e de mangas compridas. Muitas mulheres ainda seguem a tradição islâmica e cobrem o rosto com um véu. Os homens geralmente cobrem a cabeça com um tarbouch, espécie de capuz.

Passando por Erfoud e Ouarzazate e pelas espectaculares paisagens ao passar a região do Rif ( uma região montanhosa no norte de Marrocos) e pelo Atlas, percorremos florestas, vales e gargantas (a do Todra é inesquecível).

Marraquexe, no seu encanto, esperava-nos. O bulício das ruas apertadas, as cores, a música, os cheiros das medinas onde tudo se pode comprar e regatear. Um encanto para os sentidos. Os tanques para curtir as peles com as atractivas cores mas com cheiros muito fortes, atenuados pelo aroma da hortelã de menta que um local simpaticamente nos ofereceu.

A praça Jemaa al-Fna, nome que pode ser traduzido como “Assembleia dos Mortos”, pois ali, há séculos, criminosos eram executados e a cabeça deles exposta para servir de exemplo, é hoje a praça mais movimentada de Marraquexe, com vários espectáculos como encantadores de serpentes, engolidores de espadas, curandeiros, músicos, dançarinos e onde não faltam os coloridos aguadeiros sempre a tentar posar para a fotografia a troco de umas moedas.

À noite, as barracas de comida típica dominam a praça, onde centenas de turistas pululam. É ver expostas cabeças de cordeiro já prontas a comer, pilhas de caracóis e caracoletas, com um cheirinho convidativo. Do grupo, apenas eu me atrevi a comer as caracoletas. E boas que estavam.

O encontro com o Sara aconteceu em Merzouga e nas dunas douradas do Erg Chebi, onde acampámos.

Ao último pôr do sol do milénio, seguiu-se o nascer do sol do novo milénio. Experiência inesquecível para todos nós, extasiados com tamanha beleza. O nascer do sol dá uma cor alaranjada às dunas a perder de vista. Ficará para sempre na minha memória esse momento.

Como alguém disse: “Ninguém deveria morrer sem ver, pelo menos uma vez na vida, o nascer do sol no deserto.” E digo eu: Ninguém deveria morrer sem dormir uma noite no deserto, tendo também as estrelas por companhia.

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