Hoje encontrei um gato lindo numa Europa esconsa e minha ao mesmo tempo, com pouco e muito — a qual tenho aprendido a amar. Pêlo cinzento-prata, olhos verdes, vivíssimos, inseguro, com um pouco de medo e talvez com fome. Apaixonei-me — fado — por aquele animal perdido, sozinho, lindo, ou vadio encantador.
Queria trazê-lo comigo. Queria levá-lo no avião para Portugal, quando fosse outra vez Verão, mostrar-lhe — fado — o sol, o mar e as minhas estantes, os poemas de Jorge de Sena e Campos, os meus recortes e a minha colecção de suplementos literários, como tento ser um pouco feliz como ele.
Mas — fado — certamente perdi-o para sempre. Aristocrata e independente, senhor de si, o meu mais recente e eterno amor não tem contactos nem morada certa, ou qualquer smartphone, não. Lindo, sim, vadio encantador, sozinho. Perdido e inseguro? Livre. Aristocrata e independente, não esperará notícias minhas. Gato, pois então. Não um pobre humano, perdido este sempre, humano, claro, português, literário e sentimental. Esta Europa é sua, ou a sua casa, e o frio não o atormenta. Nem precisa de literatura.
Gato, safa-se sozinho em Kragujevac.
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A saber...
- Moeda Dinar Sérvio
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Kragujevac, à memória de Fernando Pessoa