Fugas - dicas dos leitores

Viagem à ilha de Avalon

Por Augusto Lemos

Quem não se lembra das histórias do Rei Artur e dos Cavaleiros da Távola Redonda? De Sir Lancelot e da bela rainha Guinevere?

O Rei Artur foi um rei lendário da Inglaterra medieval. As suas aventuras, ao lado dos cavaleiros da Távola Redonda, começaram a ser contadas há mais de mil anos, e tornaram-no um dos personagens mais populares da literatura medieval.

Provavelmente existiu um Artur real, mas os historiadores e os arqueólogos pouco ou nada sabem sobre ele. Talvez as lendas se baseiem nos feitos de um chefe celta do século V, de nome Artorius, romanizado, mas realmente derivado do celta Art (urso).

Segundo a lenda, Artur era filho de rei Uther de Pendragon e nasceu no castelo de Tintagel. Guiado por Merlin, depois de ter conseguido extrair a espada Excalibur de um rochedo, provou que era o herdeiro legítimo do trono de uma Inglaterra tremendamente dividida e atacada pelos saxões e tornou-se rei. Após ter derrotado os príncipes rebeldes casou-se com a linda princesa Guinevere e a sua residência passou a ser em Camelot .

O propósito desta viagem foi conhecer locais ligados às lendas do Rei Artur no sul de Inglaterra. Nesse sentido, fomos directos até Santander apanhar o ferry-boat para Plymouth.

Não deve haver outro local onde a lenda, a história e o mito confluam com tanta intensidade. Estamos a falar de Glastonbury. Nos finais do século XII, a ilha de Avalon ficou associada com Glastonbury quando monges da abadia local disseram ter encontrado os ossos do Rei Artur e de Guinevere. Como esta região era, há muitos anos, cheia de pântanos, talvez por essa razão desse a ideia de no meio aparecer uma ilha, a ilha de Avalon.

Percorremos o centro de Glastonbury a pé, e a primeira coisa que constatámos é que a grande maioria das lojas eram esotericamente místicas. Num cantinho duma rua lia-se “Tarot”, havia a loja dos milagres e não sei mais quantas lojinhas com adornos e roupas celtas, fuminhos e coisas semelhantes.

Estava destinado para este dia percorrermos todos os locais interessantes em Glastonbury. Começamos pelo Tor (a montanha mágica). Galgámos a subida mais íngreme e qual o nosso espanto ao constatar a quantidade de vacas no cimo, junto à torre de St. Michael. O dia estava surpreendente e do cume tinha-se uma vista fantástica, quer sobre a vila quer sobre os montículos que circundam o Tor e todos os outros montes mais distantes. Apesar de ter levado uma bússola não consegui distinguir South Cadbury, onde ficaria Camelot.

Descemos o Tor pelo outro lado e fomos ter ao Challice Well, rodeado por pomares e belos jardins. Provámos da água e sentimos nela um forte sabor férreo. O ambiente junto à fonte era de meditação e a forma de beber era ritualizada. Segundo a lenda, foi aqui que José de Arimateia lançou o graal (o cálice usado por Cristo na Última Ceia). José de Arimateia foi um comerciante e ao mesmo tempo um “secreto” discípulo de Jesus, seu contemporâneo. Dizem que beber as águas do Chalice Well é beber da própria fonte da juventude.

À tarde fomos a pé ao Weary Hill onde, segundo outra lenda, José de Arimateia cravou o bastão na terra e nasceu um thorn (espinheiro sagrado). Esta árvore, que segundo se diz só existe no Próximo Oriente, floresce duas vezes por ano, em Maio e no Natal.

Antes de nos despedirmos de Glastonbury fomos ainda visitar as ruínas da Abadia e ver o túmulo do Rei Artur. Um túmulo simples, na relva, tendo unicamente uma placa identificativa.

Seguimos para South Cadbury à procura do castelo de Camelot. Talvez tivesse sido uma fortificação de madeira, frequentemente utilizada pelos romanos, mas nada ficou, embora se indicie o local pelos buracos de postes que compunham a sua eventual estrutura.

Já na costa ocidental, e em direcção a sul, através de estradas muito estreitas e sinuosas, chegámos a Tintagel. Na aldeia tudo cheira a Rei Artur. O grande hotel, os nomes das lojas como Arthur ou Merlin, e muitos, muitos turistas. O castelo de Tintagel, no North Cornwall, é o lugar lendário da concepção e nascimento do Rei Artur. Construído nas rochas, junto ao mar, para lá chegar é necessário subir e descer muitos degraus. E lá fotografei a portinha onde  Merlin foi buscar o bebé Artur ao seu pai, Uther Pendragon.

Após Port Isaac, passámos Bodmin e em Camelford não conseguimos encontrar a Slaughter Bridge (antiga ponte, em granito, sobre o rio Camel, que está associada com a morte de Artur na batalha de Camlann); chegados à estrada principal seguimos para a pontinha de Cornwall. As horas passaram, a noite aproximava-se e decidimos procurar um B&B para pernoitar e acabámos por ficar em St. Austell.

Já era noite e chovia. E, de noite, cada vez mais chuva com muita trovoada. Acordámos com um dia de Inverno. Era Verão e tínhamos planeado para esse dia ir a St. Ivens, a Penzance e ao castelo de St. Michael mas como viajávamos de moto tivemos de alterar os nossos planos. Optámos então seguir para Plymouth e lá fomos devagarinho, equipados com os fatos de chuva. Nessa noite, e era Agosto, jantámos num pub, junto à lareira acesa.

Visitámos locais fantásticos, onde a história e a lenda se confundem. Pela primeira vez em muitos anos de viagens, tínhamos tido a sensação de ter ido a um local que não vem nos mapas.

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