Tínhamos acabado de chegar à Estação Central de Berlim, para apanhar uma camioneta para Varsóvia e, assim que nos ouviu falar português, uma senhora que falava castelhano abordou-nos.
No fundo, só queria saber para onde é que nós íamos e se precisavamos de ajuda. Mostrou-nos um recorte de jornal com um mapa e um pequeno texto que falava da Finlândia. Pelo que nos disse ficou fascinada quando soube que havia um país no qual de Inverno nunca havia luz (completamente) e de Verão nunca escurecia (completamente). O mais engraçado é que ela não fazia a mínima ideia onde era Helsínquia, nem como se ia para lá. Só sabia, e já tinha visto no mapa, que a Finlândia ficava longe, muito longe do México…
A Margarita, era assim que ela se chamava, era mexicana, aparentava ter quarenta e muitos e para quem viaja, tinha um problema grave: só falava castelhano. Inglês entendia muito pouco e alemão não percebia patavina.
Explicámos-lhe que, a partir de Berlim, havia camioneta para Varsóvia e daí para Vilnius, Riga e Tallin, onde podia apanhar um barco para Helsínquia. A empresa de camionagem que opera a partir de Berlim para os países do Báltico é a Simple Express, que tem excelentes camionetas, muito confortáveis, com wi-fi, um ecrã para cada passageiro com jogos e vídeos, e ainda com outro aliciante: para qualquer trajecto as cinco primeiras viagens custam unicamente três euros.
Prontamente a Margarita foi para a fila da bilheteira e, passado algum tempo, veio ter connosco, toda contente, exibindo o bilhete para Tallin para o dia seguinte. Explicámos-lhe que dentro de pouco tempo iríamos para Varsóvia, onde dormiríamos uma noite e no dia seguinte, à noite, iríamos de camioneta para Riga e que talvez nos encontrássemos novamente.
Dormimos em Varsóvia e tivemos o dia todo para ir à descoberta da Stare Miasto (cidade velha). Nesse dia, fora da muralha, estava a ser preparada uma comemoração ligada à II Guerra Mundial. Dentro da muralha, que está num excelente estado de conservação, há música ao vivo, lojas e lojinhas e esplanadas. Foi numa dessas esplanadas que almoçámos ao som duma banda com uma sonoridade semelhante a músicas dos filmes do Emir Kusturica.
Já era noite quando apanhámos a camioneta para Riga, mas nem vimos quem estava, só reparámos que estava muita gente a dormir. Em Vilnius, de manhã, a camioneta parou algumas horas e tornámos a encontrar a Margarita, toda feliz.
Pela estrada, ao longo da Lituânia e depois da Letónia, vêem-se, de vez em quando, pequenas aldeias de casas em madeira. A maior parte não são pintadas, mas a espaços vê-se uma pintada e normalmente com cores berrantes. A partir de certa altura a paisagem vai mudando, as pequenas aldeias com casas de madeira dão lugar à agricultura em extensão e à maquinaria. Chegados à estação central de Riga despedimo-nos da Margarita pois íamos seguir rumos diferentes.
Aliviados do peso das mochilas na consigna, seguimos à descoberta do centro histórico de Riga, a capital da Letónia. Estávamos ansiosos por saber porque lhe chamam "Paris do Norte" e fomos directos à Doma Laukums, a praça da catedral.
O centro histórico de Riga (na foto) foi considerado pela UNESCO património da humanidade e é uma das capitais da Art Nouveau. A capital da Letónia já foi dominada pela Alemanha, pela Suécia e pela Rússia e, talvez por isso se note influências de todos estes países. Mas Riga consegue conciliar muito bem a história com a contemporaneidade.
Em cada esquina há uma pracinha com flores, esplanadas e música ao vivo, desde jazz ao canto lírico. Ao fim da tarde regressámos à estação. Já começava a ser noite e seguíamos novamente de camioneta, agora a caminho de São Petersburgo mas antes de adormecer lembrei-me da curiosa Margarita, que ia para Helsínquia. Ia cumprir o seu sonho, ir para uma terra onde de Inverno a luz do sol nunca aparece em todo o seu esplendor e, de Verão, nunca escurece completamente…