Sampa exige tempo e paciência para ser descoberta. Não seduz cheia de curvas sensuais e sinuosas, como a envolvente Rio de Niemeyer. Aqui, o carnaval faz-se de concreto e cinza e perde-se de vista, aos olhos daqueles que andam pela calçada e a olham para cima. Moradas com mais de cinquenta andares que ocultam as família rés do chão.
Não é a Cidade Maravilhosa, é a Cidade da Garoa. Aqui, as mina-de-shortinho condescendem o seu fulgor às mina-cultura das grandes avenidas, que sambam ao som de Adoniran Barbosa e do batuque paulista de Pirapora.
Longe do céu azul de brigadeiro, esta Pauliceia é urgente, cosmopolita e desvairada. Quem nunca, com Caetano a chamou de mau gosto o que vi, de mau gosto, mau gosto ?
É a cidade dos milhões, dos milhares e dos milhões de milhares.
11.037.593 de habitantes, 7 milhões de carros e ônibus, 3,3 milhões de passageiros no metrô, mais de 5 mil cruzamentos com semáforos, 12 mil restaurantes, 1 milhão de pizzas cozinhadas por dia, o equivalente a mais ou menos, 43.200 por hora! É a Meca da diversidade gastronómica. Um caldeirão cultural onde estão representadas a cozinha italiana, japonesa, coreana, chinesa, libanesa. Sem esquecer, todos os sábados, da feijoada com arroz e do chopp gelado, em qualquer boteco na ladeira.
São Paulo tem que ser descoberta no sentido contrário ao seu ritmo para a desvendarmos, pela oportunidade de a olhar devagar. Não existe lembrança na formosura fugaz que se oferece. Ela precisa de tempo para ser descoberta.
Que Vinícius de Moraes e as muito belas me desculpem mas, fealdade é fundamental.
Ana Gil: http://instagram.com/agil_| http://agilemdesenhos.blogspot.pt