A ideia da realização desta viagem surgiu conjuntamente com a minha então namorada: passar uma semana no berço da civilização ocidental, em pleno mês de Agosto, o que nos proporcionaria o melhor dos dois mundos, cultura e praia.
Em Março, decidimos tratar das reservas do voo e do alojamento, investindo as nossas poupanças naquela que decerto seria a viagem das nossas vidas. Dois meses depois, estava eu solteiro e bom rapaz. Ela decidiu desistir da viagem.
Já eu, em nenhum momento o pensei fazer. E porquê? Porque desde sempre tive a vontade de experimentar viajar sozinho, e tendo em conta que Atenas fazia parte da minha lista de destinos de sonho, o que para muitos se poderia ter tornado num pesadelo para mim tornou-se na oportunidade que não poderia de forma alguma desperdiçar.
Porém, ainda tentei negociar com a agência de viagens a alteração do nome do passageiro ou convencer alguém a pagar o valor exorbitante que naquele momento pediam apenas pelas passagens de avião, sem sucesso. Assim sendo, decidi dar-me por vencido e como diz o povo “agarrar o touro pelos cornos”.
Considerando-me já um afincado viajante, não foi de todo difícil preparar a viagem. Na verdade, resumiu-se a pequenas pesquisas sobre atracções turísticas a visitar na capital helénica e sobre o seu sistema de transportes públicos.
Então, no dia programado, nervoso e, confesso, com algum receio, liguei o meu apurado espírito aventureiro e parti para o destino mais longínquo que alcancei até hoje, com direito ao meu primeiro voo com escala e muitas horas de espera. Contudo, todo o esforço foi recompensado assim que na janela do avião apareceram as primeiras ilhas gregas: a água azul-turquesa a contrastar com o verde da vegetação, os enormes barcos de cruzeiro a deslizarem suavemente pelas águas e, por fim, a riviera ateniense a escassos quilómetros do aeroporto internacional Elefthérios Venizélos.
Cansado da viagem exaustiva e da noite sem dormir, assim que aterrei procurei ignorar as letras gregas, esforcei-me para desenferrujar o inglês e reuni as minhas últimas energias para chegar ao hotel, ao meu quarto duplo com pequeno-almoço incluído, localizado bem no centro de Atenas, na região de Metaxourgheio.
Os dias que se seguiram revelaram-se numa cascata de momentos inesquecíveis, desde escalar a imponente Acrópole com a mochila às costas sob um calor abrasador, sentir a mármore do Pártenon, respirar o ar da História da humanidade, saborear uma gastronomia única e deliciosa, aprender a dizer ευχαριστ? (obrigado) com os locais, criar laços surreais com pessoas que acabámos de conhecer ou até mesmo flutuar nas águas do Egeu, numa praia paradisíaca com uma água que mais parece que saiu de uma torneira para um banho quente, a cerca de 3500km de casa. A tranquilidade, a liberdade, a independência e autonomia que se sentem são sensações absolutamente sem preço.
Viajar sozinho é sobrelevar os nossos limites pessoais, é um momento só nosso em que há tempo para tudo e não existe ninguém que se intrometa nos nossos planos, é sobretudo um espaço para definirmos quem somos e quem queremos ser, para avaliar o que está bem, o que está mal e o que pode melhorar (isto é o que dá passear em terra de filósofos). É de facto uma experiência única mas não é para todos, é preciso haver determinação, força de vontade, estabilidade psicológica e sangue frio para quando algo corre mal.
No final, fica o sentimento de realização de conseguirmos satisfazer as necessidades básicas, chegarmos onde era suposto ou arranjar um secador por meio de mímica, fica a certeza de que nos conseguimos desenrascar sozinhos num país estranho, ficam sobretudo as inúmeras memórias criadas, as histórias para contar, o agradecimento a quem encontrámos e a quem tornou tudo isto possível.
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