Fugas - dicas dos leitores

  • Foto de Nuno Cruz
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  • Longyearbyen
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  • Nuno Cruz e Sofia
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As 5 coisas de que eu mais gosto em Longyearbyen, resvés Pólo Norte

Por Nuno Cruz (texto e fotos)

Por aqui, vivem 2100 pessoas que têm por vizinhos uns 3500 ursos polares. E em Longyearbyen, a cidade mais setentrional do planeta, vivem Nuno Cruz e a sua mulher Sofia, que, com o cunhado, são os únicos portugueses da região. Nuno, 38 anos, trabalha num restaurante. E é também guia árctico.

1.
Caminhar

O arquipélago de Svalbard é a última paragem antes do Pólo Norte e os cerca de 2100 glaciares representam 60%  do território. Seja a que dia da semana, ou a que hora do dia for, é uma experiência sempre revigorante a de sair e caminhar por duas, três, seis horas em redor da cidade… A partir de 20 de Abril o sol nunca desce abaixo do horizonte, permanecendo assim até fins de Agosto. É extraordinária a sensação de liberdade e comunhão com a natureza, a qualquer hora do dia, dia da semana e com qualquer temperatura. Sinto-me pequeno mas extremamente realizado. A nossa única condição é a de levarmos uma carabina connosco para nossa protecção. Temos sempre presente que aqui é o território do urso polar e que eles são reis e senhores desta ilha e nós somos apenas vulneráveis visitantes. Existem mais de 3000 ursos na ilha (bem mais do que habitantes), que são altamente protegidos. Não sendo frequente, podem ocorrer indesejados encontros ocasionais…

2.
A multiculturalidade

Longyearbyen pertence à Noruega e a maioria dos cerca de 2000 residentes são noruegueses. No entanto, existem mais de 40 diferentes nacionalidades a residir aqui, temporária ou definitivamente. As diferentes experiências culturais e a proximidade entre todos os residentes faz com que seja uma cidade onde um “bom dia” ou um simples “olá” sejam comuns. É uma cidade organizada, com bem mais do que o essencial que se poderia esperar de um sítio tão remoto, onde não há crime, onde as portas ficam abertas e onde as chaves do carro ficam sempre na ignição. Apesar do factor natureza, que por vezes nos leva a experienciar temperaturas em torno dos -40 ou -50º, sentimo-nos tranquilos e seguros.

3.
Pyramiden

Habitada no início do século XX, a ilha estava na totalidade ligada à exploração de carvão e até aos anos 20 era terra de ninguém. Entre outras nacionalidades, os russos instalaram-se em diversos povoados, e se um deles ainda está activo (Barentsburg), uma outra localidade a Norte de Longyearbyen, chamada Pyramiden, com cerca de 800 residentes, foi evacuada de um dia para o outro pelo governo russo em 1998. Tudo permaneceu exactamente como naquele dia, desde a cantina, armazéns e os blocos de habitação ao melhor estilo soviético, ainda que envelhecidos pelo tempo. É uma experiência memorável a visita à povoação através de barco no curto Verão e de mota de neve em parte do Inverno. Actualmente vivem menos de 10 pessoas durante todo o ano, responsáveis pela soberania russa, pela conservação e protecção do espaço e por manterem um hotel aberto nos meses em que é possível lá chegar. No escuro Inverno, esses habitantes não têm qualquer comunicação com o mundo “exterior”, o que leva a que, quando os visitamos, também eles fiquem quase eufóricos por verem… pessoas!

4.
Trenós com cães

Durante o longo Inverno há dois tipos de actividades que turistas ou residentes não dispensam: andar ou viajar com as motas de neve e os passeios de trenós puxados por cães. Pessoalmente, e talvez por já estar habituado à “acção” que as motas de neve proporcionam, tenho uma certa preferência pelos nossos amigos de quatro patas. Uma vez mais a natureza marca pontos e só o facto de percebermos a alegria dos cães assim que largamos a “âncora” faz disso uma experiência especial. Já em andamento (por vezes rápido), o silêncio e a facilidade com que comunicamos com eles é desconcertante e sentimo-nos seguros, porque o melhor amigo do homem é o melhor alerta da proximidades dos ursos polares! Para ser mesmo perfeito, é sermos levados a uma caverna de gelo, dentro de um glaciar. As cavernas de gelo são formadas no Verão, quando os canais interiores de água derretem e criam corredores, grutas e galerias dentro do próprio glaciar a profundidades de mais de 50 metros. Quando congelam formam-se construções de gelo magníficas no seu interior. 

5.
Auroras boreais

Caso o título do artigo fosse “A coisa que eu mais gosto em…”, talvez esta fosse a escolhida. Por aqui a noite polar dura de Outubro até meados de Fevereiro, e durante quatro desses meses frequentemente assistimos ao hipnotizante espectáculo das auroras boreais. Apesar de me situar bem mais a norte do Círculo Polar Árctico (a latitude ideal para as observar), desde que o céu esteja sem nuvens quase todas as noites (ou dias, porque não há qualquer diferença), o show é garantido e não há frio que nos demova de sairmos para a rua ou para fora da cidade, onde não existe qualquer luz artificial e contemplar esta maravilha. Como podem durar cinco minutos ou horas, convém levar algo bem quente para aquecer o corpo e mesmo assim muitas vezes o regresso a casa é forçado pelo congelamento da câmara fotográfica ou, mais importante que isso, por deixarmos de sentir os dedos!

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