Fugas - dicas dos leitores

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Depois da Tailândia, nada mais será como antes

Eram tantos os chefs de serviço que me pemiti ir espreitar a aldeia, e foi maravilhoso ver a Mama e o Papa, dois anciãos da aldeia, avós das crianças que nos cederam o seu quarto, ela com o sorriso avermelhado de tanto mascar tabaco, ele com um sorriso cândido cheio de vontade de tirar fotos comigo, mesmo sabendo que nunca as iria ver. Descobri ainda uma mulher grávida a rachar lenha vigorosamente e crianças vibrantes e ávidas de mostrar habilidades.

Seguiu-se o jantar. Barriga cheia e noite cerrada, ainda que não fossem sequer sete da tarde, fomos convidados para outra casinha da aldeia, onde estavam reunidos muitos dos seus escassos habitantes, muitos sorrisos porque mesmo o guia não entende completamente o dialeto dos nativos, e um constante “Baby! Baby!”, com dedos a apontar para a minha barriga. Não creio que tenha a ver com o volume, era mesmo curiosidade por saber se eu já tinha gerado algum ser, pois elas, com a minha idade, já contribuíram bastante para a natalidade da Tailândia. Creio que estranharam que dos meus 35 anos não tenham ainda saído frutos dessa natureza…

Às 20h30 estamos já recolhidos, depois de ter partido a lanterna no caminho para o quarto de banho e me ter rendido à luz do luar. Felizmente a lua colaborou e deixou-se estar por perto, pois seguiram-se outras idas nocturnas ao dito WC rústico e de escassa privacidade. Mais uma experiência para concluir que se pode viver bem e feliz com condições distintas daquelas a que nos habituámos.

O quarto tinha sido cuidadosamente preparado e colocadas esteiras, com os nosso sacos-cama amorosamente esticados sobre elas, e uns saquinhos de arroz serviam de almofada, o leito ficava completo com coloridos mosquiteiros, e se não fôssemos quatro a dormir no mesmo quarto e a sinfonia do ronco que se seguiu e o ambiente teria sido bastante romântico.

Pequeno-almoço novamente preparado pelo nosso Tee com compota de abacaxi feita na hora e o pão trazido da véspera do mercado, ainda uns deliciosos ovos mexidos preparados no ponto. O sôfrego olhar de uma das crianças sobre o menu permitiu concluir que talvez fosse boa ideia o pequeno-almoço ser frugal e poderem eles desfrutar das iguarias trazidas da cidade. Não passam fome, não apresentam necessidades, mas o novo, o raro, é sempre mais apreciado. Por mim ficava ali umas quantas noites mais, parece que ficou tanto por dizer e agradecer. No regresso, por um ponto distinto para ver novas paisagens, passámos pela Mama, que nas costas levava tabaco acabado de apanhar.

Novo percurso pelo interior das montanhas, hoje com cascata, vegetação distinta e ainda campos de arroz, completado por uma aventura pela caverna dos morcegos. Uma caverna que é um túnel por baixo da montanha, com água corrente, apenas iluminada pelas tochas de bambu preparadas pelo rapaz do banho do dia anterior que nos guiou. Mais uma despedida, o rapaz da tocha regressaria agora à aldeia…já sem tocha que se havia apagado. Não há medos por ali!

Mais umas subidas e muitos quilómetros e chegamos à casa do guarda da floresta, onde estes habilidosamente faziam os cestos como os que a Mama carregava às costas. Ainda se seguiu um percurso na caixa aberta de uma pick up, num rally à tailandesa, para nos levar ao nosso transporte de regresso, mas a verdadeira aventura tinha já terminado. Alma cheia para uns tempos. Isto é a Tailândia!

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