Fugas - dicas dos leitores

Miguel Manso

Viajar é aprender

Por Maria João Reis de Carvalho

Viajar é um dos desejos mais relevantes dos homens comuns que, mesmo que o não percebam, se integra no propósito de aprender o mundo em que a nossa vida se desenrola.

Infelizmente, como este mundo é desigual em direitos, esta existência está bloqueada a muitos de nós sem que lhes consigamos oferecer alternativas que percebam como tal.

Que no entanto existem. Talvez não coincidentes com o que julgam ser o seu desejo. Talvez! Mas assim mesmo alternativas.  

Por exemplo, todos aceitamos que o Algarve é terra de lazer. De praias com finas e brancas areias. De águas calmas e pouco frias. De corpos que se mostram com prazer por serem bonitos, porque provam liberdade, porque revelam saúde.

Mas nem sempre se tem presente que também é paisagem. Muita natural, feita pelo mar, pelo vento e pelo sol. E outra, artificial, que foi sendo feita pelos homens ao longo do já longo tempo de existência destes. E que pode ser desfrutada com custos não excessivos.

Lá bem no fundo desta província que já foi designada como reino há um paraíso de ondas que fazem as delícias dos surfistas. Mas para um viajante não apreciador de surf mas que goste de enriquecer a sua imaginação pelo olhar esse mesmo local também é paraíso.

Na Carrapateira, um desses lugares, pode dormir por pouco dinheiro, pode ver um museu regional pequeno mas representativo de um tempo de vida que se vai esquecendo e pode apreciar uma costa agreste, moldadíssima pelos elementos da natureza, soberba pelo seu desértico [areal] abraçado à água do Atlântico, romântico por permitir que cada par seja dono do mundo quando, juntos, olham a vastidão de mar que têm na frente.

E para se aprender o mundo onde se vive percebendo, objectivamente, que hoje como ontem o homem sempre procurou estar junto do que de belo a natureza lhe oferece, já no final de um trajecto pegado ao oceano, bem perto dessa jóia que é a praia do Amado surge, inesperada e pacífica, mais uma relíquia arqueológica das encontradas pelos Varela Gomes nesta região: um povoado islâmico, provavelmente sazonal, onde pescadores há cerca de 900 anos se dedicaram ao labor que, agora desportivamente (ou talvez não), outros sapiens como eles continuam a praticar.

Esta forma de sentir prazer no viajar permite que cada um de nós, pela observação atenta, pela reflexão sem restrições, pela graça de ser surpreendido por cada descoberta paisagística, histórica ou de puro lazer eventualmente menos crítico se identifique com a ciência, com a arte, com a vida, enfim, com o que é criação do homem e com o facto de se ser Homem criador.

Viajar é aprender. Mesmo quem o desconhece aprende. Porque é quando se viaja, e em qualquer lugar, que se percebe que a grandeza do mundo não resulta do homem mas tem muitas marcas da existência desse homem. De todos! Dos ricos e dos pobres. Dos curiosos. Dos desatentos. Dos que fazem o mundo e dos que julgam não o fazer. Sim, viajar é aprender.

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