Fugas - dicas dos leitores

  • Joana Bourgard/Arquivo
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Gibraltar, I shall return!

Por Miguel Silva Machado

Ao fim da tarde reina uma calma tropical no Wisteria Terrace do The Rock Hotel, longe das enchentes da Main Street e logo ao lado dos teleféricos que incessantemente transportam turistas para a Top Station, o ponto mais alto da Reserva Natural de Upper Rock.

Sobre o Jardim Botânico vemos pachorrentos navios cargueiros partilhar a baía de Algeciras com rápidos ferries que ligam Europa e África. Seja da paisagem ou do ambiente no local, ajudado pelo flutuar da Union Jack no edifício do almirantado na base naval, parece sentir-se uma certa nostalgia colonial. Devia ser isto o british way of life por esse império fora.

Contrariando alguns agoiros, atravessei a fronteira sem problema em La Línea de la Concepción, a cidade espanhola que dá acesso ao British Overseas Territory of Gibraltar. Bastou mostrar o cartão de cidadão aos agentes da Royal Gibraltar Police e atravessar a pista do aeroporto internacional, circulando pela direita. Na cidade os gibraltinos conduzem furiosamente, as “lambretas” são muitas, as estradas regra-geral estreitas e há poucas passadeiras! Saí três dias depois, também sem qualquer problema, apenas aguardando uns segundos pelo gesto afirmativo do guardia civil.

Centenas de infra-estruturas militares construídas ao longo dos séculos – as últimas para a Segunda Guerra Mundial – estão integradas na vida da cidade ou têm uso museológico. A presença militar actual é discreta, “para turista ver”, frente ao Palácio do Governo de Sua Majestade em Gibraltar, no centro da cidade, mantendo-se as capacidades existentes em zonas restritas, algumas subterrâneas. Só no último conflito mundial construíram-se 52 Km de túneis, num território com sete quilómetros quadrados!

O passado militar impõe-se de vários modos, um dos quais a (útil) identificação das muralhas, todas elas devidamente assinaladas com placas explicativas e os nomes pintados em grandes dimensões. É difícil perder-se! Passando pela Landport, entramos no túnel pedestre que dá acesso à Casemate Square, a maior praça da cidade, hoje ocupada por esplanadas, com as antigas casernas e paióis circundantes ocupados por lojas e restaurantes. Fica uma sensação de… South Kensigston, ou será de Albufeira? Aqui começa a Main Street, das inúmeras lojas mas também da Gibraltar Bookshop, a visitar, ou do Luis Photos, onde se encontra todo o passado e presente de Gibraltar em imagens. Logo ao lado desta “avenida free-tax” está a Irish Town, com bons locais para comer, e uma ou outra frutaria marroquina que dá sempre jeito. Nota agradável: judeus de todas as idades envergando os seus kippah, e muçulmanos, homens e mulheres, com as cabeças cobertas, cruzam-se em absoluta normalidade fazendo a sua vida de sempre.

A cidade e os arredores têm muitos pontos de interesse, praias como Catalan Bay ou a Ponta Europa, mas o tempo urge, passo pelo Kings Bastion – fortificação transformada em centro de diversões – em cujos jardins nestes fins de tarde amenos muitos gibraltinos assistem a cinema ao ar livre. Mais uma foto, agora junto a canhões russos capturados na Crimeia em 1856, e voltamos a atravessar a pista do aeroporto para mais 650 km até Lisboa. Afinal foram poucos dias, I shall return!

 

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