Fugas - dicas dos leitores

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Helsínquia: os mil lagos e as noites brancas

Por Alfredo Magalhães

A Finlândia é conhecida por vezes como a terra dos mil lagos, embora na realidade eles sejam quase 200 mil.

De facto, ao fim duma recta, ao acabar uma curva, depois duma lomba da estrada há sempre um lago à nossa espera. Muitas vezes esses lagos são bordejados de abetos, vidoeiros ou outras árvores esguias e de alturas muito uniformes. Mesmo na capital, Helsínquia, há diversos lagos espalhados por diferentes parques, como o Parque Sibelius, um dos mais procurados por visitantes, porque integra um monumento a esse famoso músico finlandês.

Helsínquia não tem a grandiosidade de outras capitais vizinhas, mas é agradável e interessante de se ver. O centro histórico tem um conjunto de edifícios neoclássicos ou neobarrocos, ou ainda Arte Nova, edificados quando a região obteve alguma autonomia política dentro do império russo. A provar a gratidão dos finlandeses pelo autor dessa autonomia está a estátua do czar Alexandre II, no local mais nobre da cidade – a Praça do Senado, mesmo em frente ao elegante edifício neoclássico da catedral luterana, que o próprio czar mandou construir. Outra igreja relevante é a catedral ortodoxa Upenski. Fica no alto dum outeiro rochoso e as suas cúpulas são visíveis de diversos pontos da cidade ou para quem entra de barco no porto.

Mas as mais extraordinárias construções religiosas são muito recentes: a Capela do Silêncio e a Igreja na Rocha. São duas concepções arquitectónicas notáveis e muito visitadas pelos turistas, nomeadamente a segunda. A igreja na Rocha está inserida num alto rochoso e quase não se dá por ela quando se passa ao lado. Mas o interior transmite uma enorme espiritualidade semelhante às melhores igrejas ortodoxas. Por sua vez a Capela do Silêncio é uma construção em madeira no meio de uma zona altamente comercial. O seu interior, também em madeira, isola-nos dos ruídos exteriores e o silêncio ali é completo e parece transportar-nos para outra dimensão.

Mas o que mais nos atraiu em Helsínquia foi o que vimos nos arredores: uma visita a Hämeenlinna e outra a Suomenlinna. São duas fortalezas do tempo do domínio sueco, mas o que mais sobressai não é tanto a construção militar, mas a paisagem ou os parques onde estão integradas. A segunda fica numa ilha perto do porto, tanto assim que se pode ir de barco usando o bilhete dos transportes públicos. De barco também se pode dar uma volta pelas imensas ilhas, ou o Arquipélago, como é chamado. Não tem a beleza nem o interesse do Arquipélago de Estocolmo, mas mesmo assim vale a pena.

Outro motivo de interesse é o largo do Mercado. Fica mesmo em frente à entrada do porto e está pejada de barracas de venda das mais diversas coisas ou mesmo de frutas nórdicas ou comida. Rivaliza com o mercado coberto que fica perto. Numa dessas tendas comemos por duas vezes uma saborosíssima sopa de salmão e uma posta de salmão assado com batatas também assadas. Até salivo só de lembrar-me…

Tendo sido a nossa viagem no início do Verão, tivemos ocasião de assistir àquilo que o escritor russo Dostoievski denomina “Noites Brancas”, no livro de contos com o mesmo nome. Esses contos passam-se na não muito distante S. Petersburgo, mas o termo ficou para designar o fenómeno. No início do Verão o sol põe-se perto das 23:00. Entre essa hora e as 4:00 da manhã, quando desponta de novo, fica no ambiente uma luz difusa que impede que desça o costumado escuro da noite: são as noites brancas. É um fenómeno estranho para quem não está habituado, tal como o sol da meia-noite um pouco mais para norte.

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