De facto, ao fim duma recta, ao acabar uma curva, depois duma lomba da estrada há sempre um lago à nossa espera. Muitas vezes esses lagos são bordejados de abetos, vidoeiros ou outras árvores esguias e de alturas muito uniformes. Mesmo na capital, Helsínquia, há diversos lagos espalhados por diferentes parques, como o Parque Sibelius, um dos mais procurados por visitantes, porque integra um monumento a esse famoso músico finlandês.
Helsínquia não tem a grandiosidade de outras capitais vizinhas, mas é agradável e interessante de se ver. O centro histórico tem um conjunto de edifícios neoclássicos ou neobarrocos, ou ainda Arte Nova, edificados quando a região obteve alguma autonomia política dentro do império russo. A provar a gratidão dos finlandeses pelo autor dessa autonomia está a estátua do czar Alexandre II, no local mais nobre da cidade – a Praça do Senado, mesmo em frente ao elegante edifício neoclássico da catedral luterana, que o próprio czar mandou construir. Outra igreja relevante é a catedral ortodoxa Upenski. Fica no alto dum outeiro rochoso e as suas cúpulas são visíveis de diversos pontos da cidade ou para quem entra de barco no porto.
Mas as mais extraordinárias construções religiosas são muito recentes: a Capela do Silêncio e a Igreja na Rocha. São duas concepções arquitectónicas notáveis e muito visitadas pelos turistas, nomeadamente a segunda. A igreja na Rocha está inserida num alto rochoso e quase não se dá por ela quando se passa ao lado. Mas o interior transmite uma enorme espiritualidade semelhante às melhores igrejas ortodoxas. Por sua vez a Capela do Silêncio é uma construção em madeira no meio de uma zona altamente comercial. O seu interior, também em madeira, isola-nos dos ruídos exteriores e o silêncio ali é completo e parece transportar-nos para outra dimensão.
Mas o que mais nos atraiu em Helsínquia foi o que vimos nos arredores: uma visita a Hämeenlinna e outra a Suomenlinna. São duas fortalezas do tempo do domínio sueco, mas o que mais sobressai não é tanto a construção militar, mas a paisagem ou os parques onde estão integradas. A segunda fica numa ilha perto do porto, tanto assim que se pode ir de barco usando o bilhete dos transportes públicos. De barco também se pode dar uma volta pelas imensas ilhas, ou o Arquipélago, como é chamado. Não tem a beleza nem o interesse do Arquipélago de Estocolmo, mas mesmo assim vale a pena.
Outro motivo de interesse é o largo do Mercado. Fica mesmo em frente à entrada do porto e está pejada de barracas de venda das mais diversas coisas ou mesmo de frutas nórdicas ou comida. Rivaliza com o mercado coberto que fica perto. Numa dessas tendas comemos por duas vezes uma saborosíssima sopa de salmão e uma posta de salmão assado com batatas também assadas. Até salivo só de lembrar-me…
Tendo sido a nossa viagem no início do Verão, tivemos ocasião de assistir àquilo que o escritor russo Dostoievski denomina “Noites Brancas”, no livro de contos com o mesmo nome. Esses contos passam-se na não muito distante S. Petersburgo, mas o termo ficou para designar o fenómeno. No início do Verão o sol põe-se perto das 23:00. Entre essa hora e as 4:00 da manhã, quando desponta de novo, fica no ambiente uma luz difusa que impede que desça o costumado escuro da noite: são as noites brancas. É um fenómeno estranho para quem não está habituado, tal como o sol da meia-noite um pouco mais para norte.