Oriunda de um rio nascido em Portugal, sem a grandiosidade de um Douro ou Tejo, mas que, percorrendo montes e vales, desde a sua nascente, em pleno Alentejo, vai engrossando o seu caudal até encontrar e “recortar” a linda Setúbal, caprichosa com o seu azul Sado, juntando e abraçando as suas águas ao majestoso Atlântico. Aí, unidas, “constroem” uma das mais belas baías do mundo, como se observou, ainda há pouco tempo, numa alusiva exposição, patente a bordo dum histórico barco, O Évora, acostado ao cais.
Povoam-na anémonas, peixes coloridos e até uma família de golfinhos se instalou nela, verdadeiro cartaz desta cidade.
Tróia, península alentejana, que acompanha o percurso do seu rio desde a outra margem até à foz, quase forma uma baliza entre a serra Mãe, a incomparável Arrábida recortada de pequenas praias de areia de cristal, como verdadeiras conchas. Assim surge a Barra, entrada para esta baía de sonho com cheiro a maresia, giestas de Tróia e vegetação única da serra cantada por poetas e pintores e adoptada como “mãe” por Sebastião da Gama. Muitos poemas foram inspirados naquele azul sem fim e também no recorte daquela baía, talhada a compasso a perder de vista, onde o coração de cada visitante parece bater mais forte perante tanta beleza. E, para observarmos tudo isto ainda melhor, a serra privilegia-nos com diversos miradouros.
Junto ao Outão, onde se envolvem as águas revoltas do oceano com a serenidade do Sado, entram então os barcos que, ao deixarem o grande mar, se podem observar navegando calmamente até aos diversos portos nesse Sado azul como cantava o “Chico da Cana”, antigo tocador setubalense: “Não há no mundo um rio azul igual ao meu que em certos dias ele tem a cor do céu”.
Povoam-na também os barcos de passageiros ou os ferry-boats num vaivém constante a ligarem Setúbal a Tróia de passagem para o Algarve. Alguns turistas, apenas fascinados pela cosmopolita Tróia, detêm-se por lá, onde podem disfrutar de bons hotéis e passeios organizados para a visita aos golfinhos ou às tão conhecidas ruínas romanas.
Tão perto de Lisboa, este passeio único regala a vista e perdurará para sempre no meu pensamento e no meu coração. Lembro que já Bocage, na hora da partida para a Índia, lhe prestava saudosa homenagem ao expressar: “Eu me ausento de ti meu Pátrio Sado, mansa corrente, deleitosa, amena…”