Passámos um mês por diferentes cidades da Polónia em duas viagens diferentes e percebemos que os polacos são um povo trabalhador, esforçado, extremamente correcto e de uma simpatia e afabilidade difíceis de igualar.
A nossa primeira viagem centrou-se em Cracóvia, que foi capital do país até ao final do século XVI. Tem belíssimos monumentos, muitos conventos e igrejas e tem o rio Vístula pujante de força e de água, o que não acontece em Varsóvia, onde parece já cansado, a espraiar-se pelas margens e por bancos de areia.
Mas em Cracóvia os dois principais pólos de atracção são a colina de Wawel e a Praça do Mercado. Em Wawel situa-se o palácio real, a catedral e outros edifícios históricos. Está rodeada de altas muralhas e tem três imponentes torreões. A catedral tem riquíssimas e trabalhadas capelas laterais, vistosos túmulos reais e uma torre de onde se pode ter uma vista panorâmica sobre a Cidade Velha. Mas todos os passos nos levam à Cidade Velha no sopé da colina e à concorrida Praça do Mercado. Aí o edifício mais vistoso e chamativo é o renascentista Mercado de Tecidos. É, de facto, um edifício tão bonito e elegante que apetece ver e rever a qualquer hora do dia ou da noite. Em frente fica a enorme igreja gótica de Santa Maria, que os populares erigiram séculos atrás para rivalizar com a catedral lá no alto de Wawel, que servia os reis e os nobres.
Durante a nossa estadia em Cracóvia visitámos algumas cidades na região. Destas sublinhamos as minas de sal de Wieliczka, onde pudemos ver não só o modo de viver e trabalhar dos antigos mineiros, como admirar as muitas belas construções e estátuas que fizeram em sal-gema.
A outra visita que queremos realçar é o santuário mariano de Jasna Góra ,em Czestochowa. Fomos em dia de peregrinação, o que nos impediu de ver com calma e em detalhe o magnífico santuário que os monges paulistas edificaram no século XIV. Entre as muitas imagens e ícones, o mais procurado é o célebre ícone da Virgem Negra.
Também fizemos um passeio de barco no Vístula, desde Tyniec, junto a uma antiga abadia cisterciense, até ao bairro judeu de Kazimierz. Foi um passeio agradável por entre margens de verde intenso, com colinas encimadas de castelos, conventos ou igrejas. No bairro judeu, por entre bares e restaurantes a denotar essa presença étnica, admirámos uma sinagoga medieval, uma autêntica preciosidade artística, e outra renascentista, também interessante.
Varsóvia não nos deslumbrou tanto como Cracóvia. A cidade velha foi arrasada durante a Segunda Guerra Mundial mas foi depois meticulosamente reconstruída, pedra a pedra, tal como era antes. E os polacos de Varsóvia vivem bastante dessa lembrança e desse orgulho. O dia 1 de Agosto é feriado e comemora-se o Dia do Levantamento de Varsóvia. Vimos muitos cartazes alusivos, lembrando e enaltecendo o 44. Ainda pensámos que seria alguma manifestação de apoio a um político na altura preso em Portugal, mas era mesmo a celebrar o 1 de Agosto de 1944.
Em Varsóvia, a Praça da Cidade Velha tem menos charme que a Praça do Castelo, onde um enorme e interessante palácio real é uma presença visível incontornável. É uma construção do século XVII, quando Varsóvia se tornou capital da união da Polónia e Lituânia. Foi escolhida por ser mais ou menos equidistante das duas capitais anteriores — Cracóvia e Vílnius. Da Praça do Castelo, com uma enorme coluna no meio e, no cimo, a estátua de Segismundo III, parte uma via até ao palácio de Verão de Wilanow — é a chamada Rota Real. Ao longo dela há palácios, belos edifícios, monumentos e igrejas. De todos eles impressionou-nos o belo Parque Lazienki, com um palácio junto a um espelho de água, chamado Palácio Sobre a Água, e ainda muitos e belos jardins e ruínas românticas. O palácio não tem a beleza e grandeza do palácio real de Wilanow, mas o conjunto é visualmente muito mais apelativo.
Das visitas para fora de Varsóvia queremos realçar duas: Lublin e Gdansk. A primeira é uma cidade vibrante, não fora ela o principal pólo universitário da Polónia. O castelo renascentista e nele a Capela da Santíssima Trindade, com lindíssimos frescos ao estilo bizantino, são as principais atracções. Mas o símbolo da cidade, juntamente com o castelo, é a Porta de Cracóvia. Tem um enorme torreão de onde parte a principal e mais animada rua da cidade, dita Cidade Nova.
Mas a verdadeira pérola das cidades polacas é Gdansk. Pertence à Polónia desde 1945, foi fundada pelos Cavaleiros Teutónicos, que a fizeram prosperar e durante dois séculos pertenceu ao império da Prússia. Entre a Porta Verde e a Porta Dourada, das antigas muralhas segue uma enorme via com ruas e uma praça cheias de interessantíssimos edifícios, como a Corte de Artur, de monumentos e de outros pontos de atracção. O cais fluvial no rio Motlawa é outro ponto incontornável de atracção e beleza, tanto de dia como de noite. Nele está erigido um enorme guindaste apoiado numa construção de tijolo vermelho. É um belo exemplar medieval deste tipo de aparelhos e é único no mundo. Dois dias em Gdansk pareceram-nos muito curtos, pelo que ficou em agenda para uma próxima visita mais detalhada.
Resta falar da gastronomia. Os pratos são classificados pelos gastrónomos como sendo quase todos de “resistência”. Mas quero sublinhar a sopa zurek. É uma sopa à base de farinha levedada de centeio, natas, batatas e outros produtos. Tem várias versões, mas todas elas incluem salsicha branca e ovo, dentro ou fora. Uma das versões é servida em côdea de pão moldada à moda de caçarola. É uma sopa forte, mas até a minha gastrite crónica me deu tréguas nos dias em que resolvi comer zurek. E em qualquer futura visita à Polónia a sopa zurek há-de estar sempre na minha lista.