O que fazer num Verão atípico em que ora chove, ora faz frio, ou venteia, ou o calor é “de ananases”? O que fazer quando a alma não é pequena e se inquieta? Vamos à procura dos poetas portugueses, os que ainda nos glorificam e tiram do marasmo de uma democracia em insolvência.
Em Oeiras, não junto ao mar, mas no alto a ver o rio, está um parque onde moram poetas contemporâneos e de outras eras. Apesar de esculpidos em pedra, sentem o nosso desassossego e o riso das crianças que por ali correm com as mães e alguns pais, que não têm medo das palavras nem conjecturam que as suas esposas lhes são infiéis com a poesia.
Das alamedas viradas a sul, a vista para o rio Tejo é assombrosa. Nos bosques e nas ilhas encontramos proféticos monólitos cinzelados e transformados em poetas. Podemos adivinhar-lhes o sangue alvoroçado ou deprimido que lhes corre por dentro dos veios da rocha, as palavras em carne viva que articulam em puzzles. E o cheiro do pavimento que tem relva, terra, calhaus rolados e pequenos mosaicos multicores e de inesquecíveis azuis intensos.
Olha o José Gomes Ferreira poeta-militante, o David Mourão-Ferreira poeta do amor incandescente, a Natália Correia poetisa insubmissa e lúcida tão diferente e tão próxima em humanidade da sofrida Florbela Espanca. São tantos! Sessenta. Está escrito no guia.
Que belo este nosso princípio de férias. Três horas de um dia de Agosto a desfolhar poesia.