Fugas - dicas dos leitores

Escócia: país de majestosas paisagens

Por Carina Leal

Tranquilidade. Se nos for pedido para definir a Escócia, é isto. Cumpriu com tudo aquilo que, inconscientemente, lhe pedimos. Um único senão: comemos menos bem, mas o problema talvez tenha sido nosso. Valeu-nos o Jamie Oliver que, em Glasgow, nos proporcionou a melhor refeição dos sete dias.

Quanto à alma, essa foi devidamente alimentada: da natureza à arte; do mar à montanha; dos castelos às pequenas casas brancas; muita história. Sim, tivemos direito a tudo. O scottish accent foi difícil de entender, mas a simpatia dos escoceses resolveu rapidamente quaisquer dificuldades.

Somos a prova de que uma lua-de-mel não tem de ser passada, obrigatoriamente, num resort com muitas estrelas. Nada contra, sublinhe-se. Quisemos fugir à regra e isso teve que ver com aquilo que somos e que nos fez adorar a Escócia: nascidos e crescidos em sítios em que a natureza é protagonista. Basta que calcemos umas sapatilhas e roupa confortável para estarmos bem. E foi essa a indumentária (à qual associámos os impermeáveis) utilizada na Escócia, país que nos deu memórias felizes.

A viagem fez-se por Glasgow, Terras Altas e Edimburgo. Percorremos muitas milhas numa terra em que se conduz pela esquerda. (Não há motivos para receios. Foi muito fácil, sobretudo porque o carro alugado estava munido de um GPS “salvador”.) 

A City of Glasglow está-nos muito presente pelo quão organizada é. Não há carros estacionados nas ruas do centro desta cidade notoriamente marcada pela presença da indústria. Não há lixo no chão e a única desordem que lhe encontrámos teve que ver com algumas obras que estavam a decorrer. O cemitério Necropolis é uma verdadeira atracção turística (sim, é possível), até porque oferece uma vista sublime sobre a cidade. Os jardins são pensados para proporcionar verdadeiros momentos de descanso, num verde que não esconde a frequência com que a chuva cai.

Imagino-me numa daquelas casas pequenas e rasteiras que povoam a lindíssima Ilha de Skye. Imagino-me a escrever este texto junto à enorme janela que se abre sobre a paisagem. À minha frente o verde da montanha (de vegetação rasteira) funde-se com o mar. Ao meu lado, um telescópio para olhar o céu sempre que mo aprouver. Vimos muitos telescópios junto às janelas. Acredito que, por ali, se ganha tempo (porque não se trata de o perder) a observar as estrelas.

A Ilha de Skye fez-me cativa a atenção. É ali que pisamos e visitamos afamados castelos, como o Eilean Donan Castle, construído sobre uma pequena ilha, ou o Dunvegan Castle que nos conta a história do clã MacLeod. Há ainda a charmosa capital de seu nome Portree. A Ilha de Skye é um encanto, tem vales dos quais é possível avistar picos cobertos de neve e cascatas. Tem estradas estreitas em que os condutores se cumprimentam ao ceder passagem. Tem tantos animais a pastar nas montanhas. Tem percursos pedestres que garantem o contacto com paisagens ainda mais bonitas. Tem lendas em que, só ali, é possível acreditar.

Não escondo. As Terras Altas foram (e são) a minha perdição. A viagem de comboio entre Fort William e Mallaig é, de facto, imperdível, pelos lagos, vales e montes que nos oferece, mas sobretudo pela possibilidade de atravessar o Glenfinnan Viaduct que, queiramos ou não, nos transporta para os cenários de Harry Potter. Estou rendida às Highlands. Atravessá-las foi lembrar-me, tantas e tantas vezes, do olhar profundo de Mel Gibson em Braveheart. Poderoso. Fiz-me “refém” desta ilha pelo esplendor que tem. Não fosse tão longe e haveria de a percorrer mais vezes. Vimos muito. Mas há tanto mais para conhecer.

Quando alcançámos Edimburgo percebemos rapidamente que o sossego tinha ficado para trás. Estávamos numa cidade fortemente turística com muita história para descobrir. Quando, ainda na New Town, nos deparámos com a Old Town ficámos literalmente sem palavras. Foi caso para um “uau” prolongado. 

É como se a Old Town tivesse uma vida muito própria. Ergue-se sobranceira do outro lado das pontes. O Castelo de Edimburgo é visita obrigatória, sobretudo porque presta uma homenagem a todos aqueles que, durante séculos, serviram a Escócia, o Reino Unido. Há mais, muito mais, como a Scotch Whisky Experience que nos desvenda os segredos do afamado uísque escocês, com direito a prova dos sabores e odores característicos de cada região.

Em Carlton Hill deparámo-nos com as rodagens de um filme sobre a Segunda Guerra Mundial (ouvimos dizer). Caminhámos pelo Holyrood Park que permite alcançar o ponto mais alto da cidade e vislumbrar o Palace of Holyroodhouse, residência oficial de Verão da rainha Elizabeth II.

Fomos felizes na escolha, por tudo isto e por tudo aquilo que não conseguimos pôr em palavras. Vimos veados da janela da cozinha no encantador alojamento em Dalchreichart, por exemplo. Bastou que tivéssemos manifestado interesse em conhecer este belíssimo país para que amigos se dedicassem à árdua tarefa de traçar um percurso magnífico por terras majestosas. Em Maio, as noites são curtas: anoitece muito depois das 21h e às 04h30 já se vê a luz do dia. Ainda bem, pois muito há para descobrir num país em que a gaita-de-foles é tocada por quem se veste a preceito para o fazer, é como se o som atravessasse vales, montes e ruas das cidades.

Carina Leal escreve em Gente com Histórias Dentro (Facebook)
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