Fugas - dicas dos leitores

AFP/Don Emmert

Canadá, entre o Calgary Stampede e Vancouver

Por Manuela Santos

Localizada a leste das Montanhas Rochosas cerca de 100 km, Calgary foi a cidade que nos recebeu na zona ocidental do Canadá.

Com um pouco mais de um milhão de habitantes, não difere de qualquer outra grande cidade do continente norte-americano. Apresenta enormes edifícios concentrados na downtown e zonas residenciais com casas unifamiliares e edifícios de média dimensão a espalharem-se por quilómetros em redor. 

Calgary estava em festa. Decorria um dos eventos mais famosos do Canadá, o Calgary Stampede, para o qual tínhamos comprado ingresso, ainda em Portugal, que nos permitiu viver o espectáculo durante dois dias. De bilhetes na mão, lá entrámos para o enorme recinto ao ar livre, semelhante àqueles que existem para corridas de cavalos. O evento abriu oficialmente com a presença do mayor da cidade acompanhado pelo chefe da comunidade índia vestido a rigor. 

Assistimos ao tradicional rodeio, a corridas de carroças miniatura e provas de montaria que nos remeteram para os velhos filmes do Oeste americano. A festa não se ficou por aí. Se durante o dia decorreram as provas ligadas ao gado, à noite exibiram-se numerosas bandas filarmónicas daquelas tipicamente americanas, compostas por um elevado número de elementos que tocavam enquanto executavam complexas coreografias, acompanhadas de mudanças rápidas de cenários. 

Em toda a cidade, não me lembro de ter visto alguém sem o típico chapéu na cabeça. Frequentemente nos cruzámos com famílias trajadas a rigor, acabadinhas de sair de uma série televisiva do tipo Dallas. Era o que parecia. Botas de montar ricamente adornadas, coletes com franjas ou bordados, cintos de enormes fivelas chapeadas em prata. As calças de ganga e camisas de xadrez eram aqui rainhas e toda esta multidão festiva se deslocava em grande animação pelas ruas emolduradas por montras exibindo pinturas alusivas à vida dos cowboys. O índios também não ficaram sem a sua participação. Foi possível visitar as suas típicas casas, as famosas tendas de forma cónica, expostas num enorme recinto. 

Um pouco mais longe da cidade e do centro da festa, fica o Heritage Park Historic Village. Um conceito de parque museu que nos transportou para o mundo americano do séc. XVIII a inícios do séc. XX. Habitações de madeira destas épocas recolhidas de outros locais foram ali recolocadas, permitindo recriar uma pequena cidade com o seu banco, padaria onde foi possível comprar pão e bolos e degustá-los no inevitável saloon.

Uma loja antiga, os estábulos, a ferraria onde o ferreiro executava pequenos trabalhos, o cárcere, etc. bem como a deslocação pelas ruas dos funcionários do museu em veículos da época, ajudaram a dar a credibilidade necessária. A extensão do museu permite a deslocação de uma ponta a outra num comboio a vapor, verdadeiro. Todos os funcionários, cada um nas suas funções, se apresentavam trajados com roupas da época, incluindo o chefe da estação.

Para tornar ainda mais real toda a encenação e recriação dos ambientes dos séculos passados, fomos surpreendidos com uma numerosa família Amish no seu peculiar traje, antiquado, que os caracteriza e diferencia no mundo de hoje. Não eram, de modo algum, figurantes, eram simplesmente turistas. Voltámos a encontrar outras famílias noutras cidades do Canadá.

Vancouver, situada na costa ocidental do Canadá, entre as montanhas e o Pacífico, é uma cidade multicultural muito bem organizada. Pouco ruidosa para uma grande metrópole, com edifícios de média elevação, exceptuando na downtown, não causou impressão negativa para nós, visitantes já acostumados ao silêncio das Montanhas Rochosas. As ruas do centro da cidade apresentavam uma coisa curiosa: esculturas de golfinhos decorados, incluindo um caricaturando Elvis Presley. 

A Water Street, rua muito simpática, virada para o comércio e turismo, vem mencionada em qualquer guia e é famosa pelo seu curioso relógio a vapor. Aqui o que mais me deslumbrou foram as lojas de artesanato índio. Encontrei objectos com preços relativamente acessíveis. Das lojas de arte índia já não poderei dizer o mesmo! Peças lindíssimas que não ousei sequer pensar que algum dia as poderia adquirir. 

A Chinatown em Vancouver é bastante aprazível e influenciada pela organização e ordem do Canadá. Apresentava-se bem limpa e cuidada e não fosse a decoração das fachadas, das montras e toda a parafernália de produtos chineses à venda, pensaríamos estar apenas num bairro mais modesto da cidade.

Sobrevoar Vancouver em hidroavião foi mais outro desafio para quem não estava habituado. Ver assim a cidade envolvida pelo enorme xaile verde de montanhas e parques florestais, recortada finamente pelos fiordes como se de franjas se tratasse foi a melhor forma de terminar a nossa viagem por terras do país a que os europeus chamaram Mundo Novo.

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