Fugas - dicas dos leitores

Pedro Mota Curto

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Pyramiden, a cidade-fantasma

De súbito, vislumbra-se um homem no cais, marchando de um lado para o outro, sem parar. Parece estar a marchar. A sua imagem vai aumentando. Tem uma espingarda a tiracolo e um gorro com ar soviético. Um sobretudo preto e comprido, gola vermelha, estrela vermelha. Parece um soldado russo, sozinho a defender o antigo império. Não se vê mais ninguém. E ele a marchar, a marchar, orgulhoso, altivo, ciente da sua missão. O barco atraca, encosta ao cais apodrecido, a madeira que range, os poucos passageiros espantados e mudos com semelhante visão.

À sua frente estava uma das cidades-fantasma mais famosas de todo o mundo. Uma cidade russa em território norueguês. Uma antiga cidade mineira que já fora habitada por doze mil pessoas, na sua maioria mineiros ucranianos. Minas de carvão que penetravam pelas profundezas negras das encostas daquela montanha ocre, com forma de pirâmide. Tudo abandonado, tudo deserto. A natureza agreste, gelada, a recuperar o que era seu desde há milhões de anos. Em 2016 viviam neste local, nesta cidade, apenas oito russos, oito guardiães de um império desaparecido.

Pyramiden é uma cidade fantasma mas simultaneamente também é uma cidade espectáculo, no seu silêncio, nas suas paisagens deslumbrantes, no seu abandono. Uma insignificante pegada humana num cenário intocado durante milhões de anos. Uma utopia leninista no mundo real de um planeta que não cessa de nos deslumbrar.

 

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