É um Carnaval diferente de tudo o que já experienciei. O samba dá lugar à tranquilidade. Os trajes reduzidos, próprios de climas quentes, são aqui substituídos por fantasias de corpo inteiro. A espontaneidade é substituída pela teatralidade estudada. Todos encarnam personagens, e a Praça de São Marcos é o seu palco.
A originalidade foi sendo adicionada aos trajes de outrora, e constato que a criatividade impera. Sem excepção, as fantasias que aqui observo foram pensadas e confeccionadas ao pormenor. Abro o sorriso quando reparo na menina cujo vestido é feito de bonecos de peluche, o senhor de barbas brancas cujo traje me faz recordar um rei do Inverno, ou no personagem completamente coberto de trepadeiras, flores silvestres e animais da floresta. A multidão começa a adensar-se e aqueles que possuem os trajes mais singulares são imediatamente rodeados de turistas e de cliques fotográficos.
Apesar do assédio, os mascarados posam gentilmente para as câmaras. É deste modo que poso ao lado de um verdadeiro “jardim ambulante”, que, para além de distribuir flores e alegria, me presenteia com a prova de que este fim-de-semana não é apenas um sonho.
É meio-dia e os sinos tocam no Campanário de São Marcos anunciando o Volo dell’Aquila (voo da águia) que será protagonizado por Saturnino (famoso baixista italiano). Dizem-me que é o último voo destas festividades, mas recordo que também eu voarei amanhã de regresso a Portugal. Enquanto observo a figura que plana no ar, anseio pelo avião que me trará de volta ao quadro vivo do Carnaval de Veneza em anos vindouros.
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