Fugas - dicas dos leitores

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Ainda de mochila às costas no Vietname

Depois, com a chuva lá fora, brincamos com os meninos numa apanhada em círculos ou às escondidas em esconderijos pequenos. Dizemos os nomes deles e eles gritam um riso que nos faz rir. As horas passam e chega mais gente da família que se senta à espera. Depois, dizem para jantarmos. Enchem-nos de novo os pratos e eu noto a dinâmica familiar e as tigelas que chegam à boca cheias de arroz e que são devoradas a uma velocidade indescritível. A Mao conversa connosco e pergunta-nos coisas. Vai traduzindo para a família e às vezes surgem gargalhadas em coro que não entendemos.

As horas arrastam-se e há quem tenha que ir a pé para casa pelas ruas sem luz, por isso, eles dão o dia por encerrado. Lavamos os dentes na cozinha num barril que tem água que vem do campo, e dizemos boa noite. Os miúdos estão empilhados nas camas e há alguns já de olhos fechados. Passo por eles e penso no pouco que têm, mas nos risos que são fáceis. Subo as escadas. Deito-me. Entalo a mosquiteira. Faz-se silêncio, e, enquanto há sons que existem lá fora, penso, estou aqui numa aldeia no meio do nada, deitada num colchão no sótão de uma família que não conheço, que é pobre, mas que nos abriu os braços numa simpatia que ultrapassa a barreira da língua.

Quando no dia seguinte seguimos caminho, a Mama agarra-se numa despedida com beijos e palavras que não entendo, mas traduzem-mas e dizem-me que serei sempre bem-vinda a esta casa. Que ela gosta muito de mim. Isto fica tão colado na memória que depois pouco fixo as ruas que Sapa em si tem para oferecer. É que a experiência do dia anterior e aquela família ficaram agarradas ao corpo numa certeza de que não é preciso muito para ser feliz, e de ainda muito menos para se dar.

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