Fugas - dicas dos leitores

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Nunca é tarde para conhecer Lima

Por Ana Torres

“A fonte para a qual estão a olhar é o monumento mais antigo desta praça e uma vez por ano costumava correr pisco (a bebida tradicional peruana) nela, em vez de água”, revela-nos José, o guia da visita que resolvi fazer esta manhã para conhecer mais sobre Lima.

Foi desta forma que percebi que já deveria ter visitado a cidade antes… a tradição terminou há uns anos quando a igreja se cansou de ter gente um pouco mais “alegre” do que o habitual, a fazer fila para beber em frente à catedral da Praça Maior.

A catedral é um edifício imponente, mas assim que olho para ela reparo que algumas partes da sua fachada são mais antigas do que outras. O motivo? Terramotos que obrigaram a uma reconstrução parcial. E a título de curiosidade: apenas se pode casar neste edifício religioso com autorização do Papa, portanto tirem o cavalinho da chuva se estiverem por Lima e pensarem em celebrar o amor com a vossa cara metade aqui!

Mas a Praça Maior é muito mais do que a catedral e uma fonte: sendo a praça mais importante de Lima, alberga o Palácio de Governo (residência oficial do Presidente da República e onde assistimos ao render da guarda), o Palácio Arquiepiscopal, o Palácio Municipal e o Clube da União.

Prosseguimos caminho em direcção a Desamparados, uma bonita estação de comboios antiga que agora é a Biblioteca Mario Vargas Llosa. O nome Mario Vargas Llosa diz-vos algo? Bem, se não o conhecem deixem-me dizer que ele e o Enrique Iglesias são bastante próximos, já que o Mario namora com a mãe dele… mas muito mais importante que isso, Mario Vargas Llosa é um motivo de orgulho nacional, uma vez que é prémio Nobel da literatura.

Antes de passarmos ao próximo ponto do nosso itinerário, José leva-nos aos limites do centro histórico da cidade, onde a paisagem muda abruptamente: ao longe, no sopé das montanhas que rodeiam a cidade, avistamos uma favela. “É o fruto dos ataques terroristas aos agricultores na década de 1980, pelos grupos de narcotráfico”, diz-nos José. Em busca de uma vida melhor, milhares de pessoas rumaram até à capital, onde acabaram em favelas como a que vemos agora.

Para nos esquecermos por momentos desta triste realidade, José continua a visita até ao átrio da Casa da Gastronomia Peruana, onde nos dá algumas informações sobre a culinária do país. Ficamos a saber que os pratos peruanos são uma mistura de várias culturas, desde a chinesa até à italiana: em Lima por exemplo, existem inúmeras chifas que são restaurantes com comida chinesa, mas cozinhada de maneira peruana.

Contudo, antes de abandonarmos este museu damos conta de um pormenor curioso: no pátio central está uma representação da Tapada Limenha, uma tradição antiga onde as damas cobriam o seu rosto com um pano, deixando apenas um olho a descoberto. Claro que os cavalheiros ficavam doidos para ver quem se escondia por debaixo dos lenços, e não eram raras as vezes em que algumas damas astutas usavam este jogo como estratagema para descobrir se os seus maridos as traíam… É caso para dizer que a curiosidade matou o gato!

O último ponto do nosso itinerário é a Igreja de Santo Domingo. Aqui, fico literalmente com um torcicolo de tanto admirar o tecto. Os altares espalhados ao longo do espaço são semelhantes aos que se encontram nas igrejas portuguesas, tirando um detalhe: alguns santos são representados com elementos naturais, como a lua, ou o sol. Isto acontece porque quando os indígenas do Peru foram obrigados a converter-se ao catolicismo disfarçaram a sua devoção à natureza desta forma.

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