Fugas - hotéis

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    O De Rotterdam, onde abriu o hotel nhow Ossip van Duivenbode
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Um hotel para “rasgar convenções” num edifício sem cerimónias

Por Carla B. Ribeiro

Depois de Milão e Berlim, Roterdão inaugurou o terceiro nhow, os hotéis de quatro estrelas que a NH Hoteles criou para “rasgar convenções”. Isto numa cidade com uma arquitectura a olhar para o futuro e num edifício que só por si já é muito pouco convencional: o De Rotterdam. E ambos têm uma assinatura especial: Rem Koolhaas, o arquitecto da Casa da Música.

Do 44.º andar do De Rotterdam, edifício saído dos traços desenhados pelo OMA, o atelier nova-iorquino que tem entre os mais mediáticos arquitectos Rem Koolhaas, a cidade parece esmagada pelo peso do aço alicerçado sobre o rio Maas. É a inauguração do hotel nhow e esta é provavelmente a única vez que o último piso recebe um evento do hotel. Depois disto, as obras de acabamentos prosseguirão para que o andar se transforme naquilo a que está destinado: mais um piso entre dezenas de pisos de escritórios.

Mas a verdadeira novidade é o hotel que encontrou aqui o espaço ideal para aquilo a que a marca nhow se propõe: quebrar convencionalidades e transformar cada unidade numa peça única. Assim o fez em Milão, onde o arquitecto responsável foi buscar a sua inspiração à moda, ou em Berlim, em que os holofotes apontam para a música e a arte em geral.

E assim ainda o espera fazer noutras cidades, Lisboa e Porto incluídos, confessa Maarten Markus, director-geral da NH Hoteles para a Europa Central, Benelux (Bélgica, Países Baixos e Luxemburgo), França, Reino Unido e África, embora admita que na calha, para já, estão outras urbes, como Santiago do Chile, Rio de Janeiro e São Paulo, ou Barcelona.

Já o hotel de Roterdão, que ocupa uma das três assimétricas torres envidraçadas, entre o piso térreo e o 23º andar, do De Rotterdam, foi criado um pouco à semelhança do polivalente imóvel: "foi pensado", explicou à Fugas Ellen van Loon, uma das sócias do OMA, "como uma espécie de palco que, a qualquer momento, pode mudar de cenário e transformar-se". "O nosso objectivo foi sempre pensar o edifício como um espaço funcional, onde arte e arquitectura pudessem ser evidenciadas pelo uso da luz, do ambiente, do som."

A proposta para o OMA abraçar também o projecto do hotel chegou mais tarde. Aliás, o atelier de Koolhaas não foi o primeiro a ser escolhido para idealizar o hotel. "Chegaram a duvidar de que fossemos capazes de desenhar um hotel uma vez que nenhum constava na nossa lista de trabalhos", lembra, divertida, Van Loon. "Mas, francamente, quem melhor para idealizar um hotel do que alguém que passa a vida a viajar e a dormir em hotéis?"

Assim, acabariam por criar o hotel onde se sentiriam bem a dormir durante as muitas viagens que são obrigados a fazer em trabalho, com espaços funcionais, simples e capazes de mudar a qualquer momento. Tal como o edifício. Van Loon espera, dessa forma, que, a cada novo hóspede ou grupos de hóspedes, também o hotel adquira uma diferente personalidade: "o objectivo é que os utilizadores [do hotel] tragam a sua individualidade e marquem o espaço".

Funcional e simples

A metamorfose dos espaços é evidente. Desde o momento da chegada, enquanto ainda se vão delineando alguns pormenores para a festa de inauguração que no dia seguinte reuniria algumas das figuras ilustres da cidade, até ao check-out, não é difícil observar pelo menos umas três transformações. E este processo contínuo de transfiguração também vai alterando a forma como se sente o mesmo espaço. Como acontece logo à entrada. A impressão fria dos primeiros instantes acaba por ser substituída por uma sensação de reconhecimento e, mais tarde, por outra de conforto. Até que, já quase de partida, enquanto se vagueia pelo amplo e empedrado espaço à volta de um comprido balcão de recepção, se é invadido por um sentimento de familiaridade.

O mesmo aconteceria no bar-restaurante que na primeira noite pareceu demasiado despido ao ponto de se tornar desconfortável. Os faustosos pequenos-almoços, servidos nesse mesmo espaço ou a festa frenética do dia seguinte acabariam por lhe imprimir a vida que não reconhecera aquando a primeira visita.

Nos quartos, porém, não é difícil sentir conforto logo à chegada. Primeiro, pelas vistas: seja virado para o nascer ou para o pôr-do-sol. Depois, pela cama, cujo colchão foi garantia de duas noites repousadas e de acordar fácil pela manhã. Mas sobretudo pelo aspecto limpo quer da disposição do espaço, quer da escolha da decoração e mobiliário. Com um vidro a dividir a espaçosa casa de banho da zona de dormir, o espaço onde ficamos é prova de que Ellen van Loon conseguiu o objectivo de tornar os quartos deste hotel "simples" tal como planeara.

Mas, descobrimos em conversas de corredor, nem tudo foi fácil: a arquitectura pretendia usar um vidro liso na separação dos espaços para que tudo fosse translúcido e a casa de banho pudesse beneficiar de toda a luz natural e vista; a administração dos NH Hoteles insistiu no resguardo da intimidade. Acabaram por concordar com um vidro liso, a deixar passar a luz, mas cuja translucidez é quebrada pela existência de inúmeros pontinhos foscos — uma escolha que, de cada vez que se entra na casa de banho, faz sentido. Outro ponto de discórdia seria o funesto, mas bastante útil sobretudo para quem viaja em negócios, aparelho de televisão. Pelo atelier este seria anulado, mas a NH Hoteles não o poderia admitir. Assim, a tv faz parte das funcionalidades do quarto, assim como um minibar, uma máquina de café expresso ou uma chaleira eléctrica, mas está completamente oculto atrás de um enorme espelho. À vista funciona, embora persistam dificuldades em operar o comando devido à grossura do espelho.

Mas nem tudo foram discórdias: o cadeirão aveludado que habita os vários quartos foi uma escolha da NH prontamente aceite pelos arquitectos, enquanto a ideia de deixar entrar o ar nos quartos, algo incomum num hotel de cidade com esta altura, foi claramente abraçada pela administração do grupo. Assim, é possível logo pela manhã sentir a maresia abrindo uma pequena fresta incorporada nos janelões que vão do chão ao tecto e deixar o ar fresco invadir o quarto.

Uma cidade, um edifício

Quatro anos foi o tempo suficiente para que a moldura arquitectónica de Roterdão mudasse. Tudo por causa do De Rotterdam que tem como vizinhança uma torre com a assinatura do português Siza Vieira. Mas é a visão do De Rotterdam, ao atravessar a ponte Erasmus, que mais respeito impõe.

Nem que seja pelo tamanho: o edifício assenta numa base com uma dimensão aproximada a um campo de futebol, assumindo-se primeiro como um bloco único para posteriormente dividir-se em três torres em aço e betão, forradas a vidro (foram necessários 50.000m2 de vidro), que tão depressa parecem distantes como a seguir aparentam se tocar. Subitamente, mais parece que se está a entrar em Manhattan em vez de se estar a chegar à zona de Roterdão onde até há poucos anos se amontoavam os armazéns abandonados do porto — alguns ainda resistem, mas quase todos têm os destinos definidos, o que contribuirá "para mudar o rosto do lado sul e pobre da cidade", dizem-nos.

Os números impressionantes continuam a surgir à medida que se vai reunindo informação sobre o edifício: na totalidade dos pisos, esta "cidade vertical" tem 160.000m2 de área e pesa qualquer coisa como 230.000 toneladas.

O peso, numa cidade assente em areias e lamas e sem rocha, foi aliás um dos problemas com que se teve de lidar. Assim, as fundações das torres mergulham 22 metros sob a superfície. E, mesmo assim, devido à diferença de pesos entre as torres, foi necessário mover os pilares a meio da obra até toda a estrutura estabilizar, uma vez que uma das composições parecia querer afundar-se. O mecanismo que permitiu este joguete é visível naquele que será o átrio de entrada de acesso aos escritórios, já depois de se ter passado pela área de lazer e restauração, no piso térreo, e pelos cinco pisos de estacionamento que se seguem — e que, num futuro próximo, integrarão um centro de fitness.

Com os escritórios a invadirem os andares sobre o hotel e a torre central, e que irão receber toda a estrutura governamental, falta um dos propósitos que foi guardado para a última torre. Nesta, os andares são compostos por residências para venda e aluguer. Devidamente resguardada (e guardada), a torre será apenas acessível a quem comprar ou alugar uma penthouse ou apartamento, cujas dimensões vão dos 60m2 aos 250m2 (com varanda). Disponíveis, uma série de serviços que basicamente garantem que tudo o que os proprietários / arrendatários precisarem seja providenciado — desde a manutenção até à limpeza, não esquecendo a segurança.

Assim que todo o edifício estiver ocupado, então perceber-se-á a primordial intenção do OMA — criar uma microcidade, "onde se vive, trabalha e se diverte, em que a qualquer momento do dia ou da noite há sempre algo a acontecer".

Reconstruir, reconstruir

Após apenas dois dias na cidade, penso que este poderia ser um lema que distinguisse os roterdamenses. O nosso guia, um jovem arquitecto da Rotterdam ArchiGuides, durante um circuito pela arquitectura da cidade, confirma as suspeitas quando, peremptoriamente, afirma: "quando um edifício entra em desmoda simplesmente vem abaixo e constrói-se outro no mesmo sítio, mais moderno". É o caso do prédio alto para o qual ele aponta enquanto explica que a arquitectura dos anos de 1960/1970 é, basicamente, considerada hoje como muito feia e por essa razão o destino daquele mesmo edifício está traçado: ser demolido.

O pouco apego afectivo às construções não é a despropósito. Roterdão, sobretudo a sua parte mais antiga, constituída por muitas casas datadas do período medieval, foi arrasado durante a II Guerra Mundial. A 14 de Maio de 1940, um ataque aéreo das forças germânicas atingiu o coração da cidade: perto de mil mortos e 80 mil desalojados são números que não passam de estimativas. Estima-se ainda que mais de 25 mil fogos desapareceram e que 24 igrejas e 62 escolas foram destruídas. Primeiro pelas bombas, depois pelas chamas que rapidamente se alastraram, beneficiando do caos, das ruas muito estreitas, das edificações velhas. Só no dia seguinte o incêndio seria contido.

Depois só havia uma coisa a fazer: reconstruir. Mas ninguém queria voltar ao passado ou reproduzir os retalhos da História. Por isso, o centro histórico de Roterdão foi repensado a partir de conceitos-base tais como a funcionalidade ou a segurança (não vi rua onde não passasse um carro de bombeiros). O único edifício datado do século XVII que se manteve de pé foi, no entanto, mantido, embora tivesse permanecido encerrado durante anos. Até que, em 1978, a cidade tomou a decisão de o restaurar, tendo acolhido o Museu de Roterdão até 2012. Hoje o Schielandshuis, cuja construção é atribuída ao arquitecto Pieter Post, uma autoridade no Classicismo holandês, vê-se cercado por estruturas gigantes e rectilíneas, a lembrar um requintado, mas perdido, palácio urbano. Até porque, desde a saída do museu, ainda não lhe foi atribuída outra função senão a de ser ponto de visita obrigatória para turistas.

Enquanto pelo Schielandshuis sopram murmúrios do passado, no Markthal aguarda-se por um verdadeiro vendaval de vida futura. Com abertura agendada para Outubro, a gigantesca estrutura em forma de arco vai albergar o mercado da cidade — em Roterdão há apenas mercados a céu aberto. Mas não só. Depois do pôr-do-sol, a estrutura, onde também está contemplada uma área residencial, com 228 apartamentos e estacionamento, além de um hotel que ocupará 1600m2, transforma-se numa bem-iluminada praça pública na qual se espera bastante frenesim.

Roterdão num cubo

Enquanto o Markthal se mantém em obras, é de espreitar o complexo de cubos que se impõe mesmo à sua frente. O projecto de Piet Blom, datado da primeira metade da década de 1970, inclui, além de uma torre, 38 casas em cubo e lojas voltadas para uma pequena praça. A ideia era criar um espaço junto ao porto onde se pudesse fugir ao trânsito e aos elevados edifícios de escritórios. Mas, embora os 38 cubos já estivessem vendidos ainda antes de concluídos, o projecto de levar vida para os cubos acabaria por nunca resultar: hoje a maioria das lojas ou está de portas fechadas ou exibe um comércio pouco atractivo para o turismo.

No entanto, há uma razão pela qual vale a pena a visita: o Show-Cube, uma espécie de casa-museu, em que o proprietário manteve tudo tal e qual tinha, abrindo o espaço ao público para satisfazer curiosidades e contar a história do projecto. Aberto diariamente, das 11h às 17h, as entradas têm um custo de 2,50€ (preço para adultos).

Uma visita a Roterdão não estaria completa sem uma passagem pelo Groothandelsgebouw, um enorme edifício de escritórios e um dos primeiros a ser concluído após a II Guerra. Não tanto pela beleza da estrutura ou pela sua história. Mas pela vista que se pode ter do terraço, gerido pelo Engels Grandcafé, oposta à que se pode observar do 44.º andar do De Rotterdam. E, aos nossos pés, a recém-inaugurada Central Station, por onde se cruzam diariamente mais de cem mil pessoas. O projecto conjunto dos ateliers de arquitectura West 8, Benthem Crouwel Architects e MVSA Meyer e Van Schooten Architecten distingue-se pela sua forma assimétrica assim como pelo largo que se espraia à sua frente. É assim a nova porta de entrada na cidade. E, como era a intenção, uma porta grande que se abre directamente para o coração de Roterdão.

GUIA PRÁTICO

Como ir

As ligações aéreas a Roterdão não estão entre as mais económicas: um voo i/v pela Lufthansa compra-se por valores médios de 350€. Outra possibilidade é eleger o aeroporto de Schiphol (Amesterdão) e daí apanhar o comboio para a Central Station de Roterdão. A rota Lisboa-Amesterdão é assegurada por vários companhias de baixo custo, nomeadamente a Easyjet (trajectos desde 30,99€) ou pela Transavia (trajectos desde 45€). O custo de um bilhete de comboio para viajar de Schiphol para Roterdão começa nos 13,90€.

O que fazer

A Rotterdam ArchiGuides é uma das melhores formas de conhecer a cidade a partir da sua perspectiva arquitectónica. A maioria dos circuitos é organizada em grupo e o custo por pessoa fica à volta dos 10€. A reserva antecipada é a melhor forma de garantir o passeio acompanhado.

Para outra perspectiva da cidade, é de ponderar apanhar boleia num táxi pelo rio Maas. Os Water Taxi Rotterdam podem ser reservados para uma série de percursos pré-estabelecidos, sendo que é de reunir um grupo de oito para poupar nos gastos: o preço do mesmo percurso para uma pessoa pode ficar em 25€ e para oito passageiros não ir além dos 50€ (6,25€ por passageiro).

Onde comer

Um dos sítios a experimentar é o Restaurante Bazar, na Witte de Withstraat, 16. O acolhedor espaço, que também engloba um hotel, é decorado com os tons do Norte de África e oferece menus a condizer. O preço médio de uma refeição ronda os 15€ (sem vinhos).

A Fugas viajou a convite da NH Hoteles

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