O caminho até Arouca faz-se bem, sobretudo a partir de Carregosa, quando a estrada começa a serpentear por uma paisagem gradualmente mais rural, num piso irrepreensível que acompanha o contorno dos vales rumo à Freita. Nos dias em que há neblina matinal, os carros até deslizam acima do nível das nuvens, que pairam bem distintas sobre as planícies abaixo da estrada e parecem a jeito de lhes tocarmos o algodão. Um luxo, conduzir assim acima das nuvens, numa serra fértil que, ainda na Área Metropolitana do Porto, já oferece uma paisagem tão distinta da cidade. E é entre distracções como essas que se chega a Santa Eulália, mesmo às portas da vila de Arouca, procurando a Quinta do Pomar Maior entre campos de hortaliça, milheirais, ramadas de uvas e kiwis.
Por aí, a vida já anda mais devagar. Vê-se gente a passar em motoretas, homens a pé de enxada às costas, senhoras que avaliam os forasteiros que chegam. Há ali outro ritmo, as manias da urbe ficaram para trás. Daí a surpresa quando finalmente se entra na quinta: há plantas em todo o lado, árvores que nem sabemos identificar e um relvado aprumado junto à piscina, mas em volta não se esperava aquela arquitectura sofisticada, com casas de arestas assimétricas como as de Rem Koolhaas empoleiradas sobre rochas, um esmerado jardim vertical e um contraste assumido entre diferentes etapas da vida da propriedade — uma fase com mais de 100 anos, patente na pedra original das habitações que Vânia Leal comprou em 2012 e abriu ao público em 2014; e outra com apenas alguns meses, expressa nos novos edifícios com que o arquitecto Paulo Moreira remodelou a quinta.
A recepção repousa agora junto à piscina, num bloco autónomo que acolhe a pequena sala de refeições, cheia de luz natural e delícias campestres como sumos naturais, cerejas do tamanho de ameixas e iogurtes overnight com mirtilos, nozes e outros secos locais. Em frente, o pomar tem cerejeiras, ameixeiras, maracujaleiros, nespereiras e um abacateiro; junto ao chão há batatas, tomates, cenoura, beterraba, morangos, framboesas, carqueja, hortelã, tomilho, cebolinho, manjericão. Galinhas, patos e garnisés correm pelo meio e, como se tudo isso não bastasse para uma aula viva de natureza, em certos dias os hóspedes podem participar em workshops de enxertia, aulas de compostagem ou oficinas de chá com plantas da horta. Quem não quiser sujar as mãos também tem opções: ioga, pilates, meditação, massagens e até jantares temáticos ou provas de vinho na lareira exterior da quinta, plantada em aço discreto na encosta do monte que se enroscou atrás da casa maior.
Recantos como esse, cheios de potencial, existem por toda a propriedade, mas o que a confirma como um refúgio simultaneamente moderno e bucólico descobre-se melhor nos alojamentos, todos baptizados segundo ex-líbris de Arouca. Em grupo, por exemplo, a melhor alternativa é a casa Mosteiro, com quatro quartos distribuídos por dois andares despojados e robustos, para uma verdadeira experiência de vida no campo, realçada por um pátio com churrasqueira para uso exclusivo de quem ficar na casa.