Fugas - hotéis

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Aqui seremos estudantes para sempre

Por Mara Gonçalves

Neste edifício de Amesterdão misturam-se (muitos) estudantes universitários, hóspedes e turistas. Atmosfera de hostel, qualidade de hotel, design jovem e arrojado. Para que “o estudante que há em si viva para sempre”. E o The Student prepara a estreia em Portugal.

 Estamos a meio da visita guiada ao The Student Hotel Amsterdam City – a segunda unidade do grupo na capital holandesa – quando duas raparigas entram numa das cozinhas partilhadas e, sem cerimónias, começam a preparar o almoço. Tínhamos acabado de vê-las no ginásio do hotel e ainda vêm com a roupa desportiva vestida. Olham com desconfiança para o grupo de jornalistas que invade o espaço, perscrutando prateleiras, lendo as piadas juvenis no quadro de ardósia, admirando a panorâmica sobre a cidade que se avista da janela da cozinha. Afinal de contas, é como se lhes tivéssemos entrado pela casa adentro. 

Tal como 80% dos hóspedes, são estudantes universitárias e moram aqui desde o início do ano lectivo. De Setembro a Junho, apenas 20% dos 571 quartos estão disponíveis para estadias de curta duração (até duas semanas, com preços de hotel) ou de média duração (a partir de duas semanas, pensado para quem está a estagiar, a tirar um pequeno curso ou a trabalhar temporariamente na cidade, por exemplo). E só no Verão, quando a escola termina e a maioria dos estudantes regressa a casa, é que “tudo muda” e passa a ser “totalmente um hotel” – pelo menos no sentido tradicional do termo –, conta Camile Melon, do departamento de marketing da empresa e que agora nos guia pelo edifício.

Tal como o nome do grupo deixa antever, estes são hotéis para estudantes e, embora o termo tenha por aqui um sentido lato (já lá iremos), a verdade é que é quando os universitários regressam que o ambiente volta ao estado idealizado. “Sentimos que temos os nossos edifícios de volta”, contava no dia anterior Charlie MacGregor, fundador e director-executivo do The Student Hotel. É que são os estudantes que estão na origem de toda a história e que tornam estes hotéis conceptualmente diferentes de todos os outros. Até para quem fica hospedado apenas por uma noite.

Apesar dos quartos de uns e de outros estarem situados em alas separadas do edifício (aqui só se acede a cada divisão, escada, corredor ou piso no elevador com a chave electrónica “certa”; e, por isso, os hóspedes de hotel nunca verão as cozinhas “estudantis”, por exemplo), todo o rés-do-chão é comum e desenhado para ser partilhado por todos, estimulando a troca de histórias e de experiências entre estudantes e viajantes de lazer ou de negócios. 

Junto à recepção, onde nem uma bicicleta e um manequim escaparam ao amarelo-vivo, começa um enorme lounge, com bar, vending machines e diferentes zonas de convívio. Há sofás, cadeirões, mesas compridas rodeadas de cadeiras e um inusitado espaço circular, separado do resto da sala por uma cortina negra, com televisão e livros. “Sssh! Ted talks.”, lê-se na placa. Ao lado, surge o salão de jogos, com mesas de pingue-pongue, de snooker e de matraquilhos, e a sala de estudo ou de trabalho. E ali próximo, ficam o ginásio e o pátio interior, ambos também de acesso livre a todos os hóspedes. Já o bar-restaurante, The Pool, fica do outro lado do edifício, com uma esplanada a chamar a comunidade local.

A ideia é, no fundo, unir “a atmosfera de um hostel”, onde “toda a gente fala com toda a gente”, com “a qualidade de um hotel”. Tudo num espaço de design arrojado, que combina o ar industrial do edifício com peças modernas e vintage, muita cor, posters e grafiti.

Ideia que surgiu por acaso

Quando Charlie MacGregor decidiu abrir o primeiro projecto de alojamento estudantil em Liege, na Bélgica, em 2006, estava longe de pensar que a residência universitária “moderna e cool” que queria construir se iria transformar numa cadeia de hotéis que une estudantes universitários, hóspedes de média duração, turistas, salas de aulas (que tanto podem ser utilizadas para pequenos cursos de Verão, como workshops, palestras ou reuniões empresariais) e espaços de co-working abertos à comunidade. 

É nestes cinco pilares que quer assentar o conceito do The Student Hotel, actualmente com sete hotéis em várias cidades dos Países Baixos, em Barcelona e em Paris. E este Amsterdam City, que visitámos durante a inauguração oficial em meados de Abril (abriu em regime de soft-opening em Julho do ano passado), é o modelo para os cerca de 40 hotéis que pretendem abrir até 2020 pela Europa fora. (ver caixa lateral)

Mas voltemos, então, ao início. Charlie MacGregor, de 40 anos, curiosamente nunca chegou a frequentar a universidade, mas aos 15 anos abandonou a escola para trabalhar com o pai na construção de alojamentos para estudantes na Universidade de Edimburgo, cidade escocesa onde nasceu. E foi com o pai que mais tarde se lançou no projecto para uma residência universitária em Liege, inaugurada em 2008. O objectivo era implementar a ideia nos Países Baixos, mas “as regras e os regulamentos para as residências são muito restritivas aqui”, recorda. Cada quarto tinha de ter, no mínimo, 28 metros quadrados e os proprietários não podiam cobrar mais de 300€ por mês; normas que colidiam com a intenção de criar alojamentos de luxo e um negócio rentável.

Um dia, estava a mostrar o vídeo promocional do primeiro empreendimento a uma advogada quando ela comentou que o check-in dos estudantes se assemelhava ao serviço de um hotel. E assim nascia a ideia de contornar as regras (menos limitativas para os hotéis), abrindo os edifícios maioritariamente estudantis a outros hóspedes. Primeiro “às mães e aos pais” que quisessem visitar os filhos por uns dias, depois a qualquer pessoa. E quando, na mesma semana, dois jovens estagiários da Nike lhe foram perguntar se podiam ficar hospedados por mais tempo, mesmo não sendo estudantes, nasceu a opção para estadias de média duração (“stay awhile guests”), com preços diferenciados. 

Com um espírito muito próximo das start-ups e do empreendedorismo, o próprio conceito do The Student Hotel amplia-se e a definição de estudante alarga-se agora à metáfora da eterna aprendizagem. “Acho que uma das coisas que estamos a descobrir é que estamos a redefinir essa palavra: estudante”, defende o fundador da empresa durante uma conferência de imprensa onde dezenas de jornalistas e Charlie acabam sentados à conversa no chão. “É a esse espírito de estudante, uma espécie de optimismo e de entusiasmo, que nos queremos agarrar.” Como leremos um pouco por todo o hotel, “may the student in you never die”.

A Fugas esteve alojada a convite do The Student Hotel Amsterdam City

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