Apesar de ser a oitava maior cidade do Brasil e o centro de uma grande região industrial, Curitiba tem ares de vila do interior. Fundada no século XVII como Vila de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais, adquiriu o actual nome — “grande quantidade de pinheiros” na língua guarani — no século XVIII e tornou-se capital do Paraná aquando da emancipação política do estado, em 1853. Nas décadas seguintes, Curitiba foi o destino de vida para milhares de alemães, franceses, suíços, polacos, italianos e ucranianos, e também para japoneses, sírios, libaneses e judeus. Estas origens estão hoje reflectidas nas faces, nos nomes e nos hábitos dos 1,8 milhões de habitantes, mas também nas muitas indústrias por eles criadas dentro e à volta da menos portuguesa das grandes cidades brasileiras.
Curitiba fica a 100km da costa e a 400km a sul de São Paulo. Nesta cidade “do sul”, como dizem os brasileiros, o clima não é tropical, é temperado. No Inverno, os termómetros chegam perto do zero. Curitiba não tem as praias, a história ou os monumentos modernos de outras cidades como Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador da Bahia ou Brasília. Como destino de viagem tem o apelo exótico de, digamos, Ovar. O que é que a torna então apelativa para viver e visitar?
Qualquer curitibano diria que a sua é uma das cidades mais ricas, mais seguras, mais verdes e mais miscigenadas da América Latina. E muitas destas qualidades têm a ver com o design: nos anos 1970, o arquitecto e urbanista Jaime Lerner implementou vários projectos inovadores de transportes públicos e gestão de resíduos, mas também parques, equipamentos culturais e a primeira rua pedonal do Brasil, tornando a cidade de que foi três vezes prefeito (presidente da câmara) num exemplo mundial de desenvolvimento sustentável e de qualidade de vida.
Entretanto, a cidade foi criando também uma reputação ao nível do design, albergando várias edições da Bienal Brasileira de Design, o Centro Brasil Design e alguns dos melhores cursos superiores e ateliers de design do país. Só lhe faltava um hotel à altura dos seus espaços públicos, da sua vivência urbana e da sua dedicação ao design.
Foi isso que os irmãos Carolina e André Nacli fizeram quando abriram o Nomaa, em 2015. Este é o primeiro hotel cinco estrelas, boutique e design de Curitiba. Estes títulos são usados de forma isolada ou cumulativa noutros, poucos, hotéis e resorts no Brasil — como a cadeia Fasano, que definiu no país um padrão de luxo assente no design sofisticado e de sabor moderno-tropical. E que se aplicam bem a este prédio discreto numa esquina da Rua Gutenberg (contar com o pai da tipografia no endereço é um bom prenúncio para qualquer designer) no bairro do Batel, conhecido pelas suas alamedas amplas e praças arborizadas, condomínios e centros comerciais.
Com fácil acesso à rede de autocarros e ciclovias da cidade, o Nomaa (que empresta bicicletas eléctricas aos seus hóspedes) fica também a dois quarteirões da Avenida Vicente Machado, centro da vida nocturna e, vale a pena destacar, da emergente cena de cerveja artesanal de Curitiba.
O design dos interiores do Nomaa é da arquitecta Fernanda Cassou, mulher de André. Ela e os dois irmãos começam uma conversa e visita ao seu hotel com a ideia geral para a sua identidade e ambientes, que, como Curitiba, não tem nada de tropical mas tem tudo de contemporâneo: “Teria que ser algo atemporal, que agradar a todas as idades”, diz Fernanda, justificando a escolha de “tons, cores e materiais mais neutros” com o objectivo de criar um hotel “bem contemporâneo, mas também quente e aconchegante”. Já o lobby foi pensado como um novo espaço público, “mais permeável e aberto à cidade”, como afirma André: trata-se de uma grande sala de estar que começa no piso térreo e continua, escadaria acima, no terraço e esplanada do restaurante Nomade.
E é nas manhãs de fim-de-semana que este novo espaço ganha mais vida ao encher-se de casais e famílias que vêm para o que rapidamente se tornou, até para surpresa de Carolina, sócia mas também directora do Nomaa, no mais requisitado brunch de Curitiba. Mais até que o menu de jantar, composto pelo chef Lênin Palhano a partir de ingredientes regionais como o pinhão do pinheiro-do-Paraná – a magnânima Araucaria angustifolia, o ex-líbris de Curitiba — este brunch fez do Nomade não só um lugar de estada para os seus visitantes — sobretudo mulheres e homens de negócios — mas de convívio para os habitantes da cidade.
É nessa lógica que a aposta do Nomaa no design ganha maior valor. Afinal, um hotel de luxo é um daqueles espaços híbridos que não é nem uma loja, nem uma galeria, nem a nossa casa: aqui podemos contemplar mas também usar o mobiliário e os outros objectos que poucas vezes poderemos comprar. Como os vários clássicos do design moderno projectados por designers como Charles Eames, Eero Saarinen, Harry Bertoia ou Hans Wegner, e ainda dos brasileiros Sérgio Rodrigues e Flávio de Carvalho, cujas cadeiras e poltronas mobilam o lobby-recepção-sala-de-estar, o restaurante e ainda os quartos e suítes do hotel.
É, porém, na atenção e investimento no design contemporâneo brasileiro que o Nomaa se destaca dos seus concorrentes. Aqui podemos descobrir várias peças de Jader Almeida, o mais respeitado e prolífico da nova geração de designers de mobiliário brasileiros, e ainda as poltronas de Pedro Useche, Cíntia Gomes, Zanini de Zanine, EstudioBola e Em2 (Roberto Hercowitz e Mariana Betting). Além do candeeiro projectado por Fernanda Cassou para o balcão da recepção, encontramos um candeeiro de edição limitada dos curitibanos Fetiche Design (Carolina Armellini e Paulo Biacchi).
As estantes do lobby e dos quartos contêm vasos dos Holaria, um estúdio-fábrica de porcelana fundada por Aleverson Ecker e Luiz Pellanda em Campo Largo, conhecida como a “capital da louça” do Paraná e do Brasil. A identidade visual do Nomaa é do atelier curitibano Taste. Nas paredes do hotel encontramos ainda obras de Paolo Ridolfi, André Azevedo e Eliane Prolik, além de fotografias do próprio André Nacli que reproduzem em grande dimensão detalhes da natureza e arquitectura de Curitiba.
Com áreas generosas, os 40 quartos do Nomaa dividem-se nas categorias Max, Vitra, Magnum e Meet, estando decorados com conforto e sobriedade dados pela madeira das estantes, armários e divisórias, mas também pelo mármore Branco Paraná, a variante leitosa de mármore da região que forra todas as casas de banho. As duas suítes Ático, de 91m2, contam com uma banheira de imersão e um terraço privativo com lareira (recordamos que em Curitiba faz frio).
Todos dispõem de regalias expectáveis de um hotel como o Nomaa, tais como lençóis de algodão egípcio Trussardi, menu de almofadas e um iPad concierge que permite pedir serviço de quarto ou fazer uma marcação para o Gaya, o spa aberto também a não-hóspedes. Uma inovação tecnológica que, todavia, em nada ultrapassa a notável eficiência do pessoal jovem e descontraído do hotel e restaurante. Que, além dos humanos, estão dedicados também ao bem-estar de outras espécies de hóspedes: sendo um hotel pet friendly, o Nomaa dispõe de camas especiais para gatos e cães de pequeno porte.
A idade média de Carolina, André, Fernanda e Lênin é de apenas 30 anos. Ou seja, Nomaa é um projecto de juventude, mas de uma juventude brasileira de uma cidade confiante, despretensiosa e cosmopolita como Curitiba. E é também um projecto em expansão: impulsionados pelo primeiro ano de sucesso, os irmãos estão já a contemplar expandir a presença do Nomaa para outros terrenos das redondezas. E, quem sabe, para outras avenidas do Brasil.
Nomaa Hotel
Rua Gutemberg, 168 – Batel – Curitiba/PR, Brasil
Tel.: +55 (41) 3087-9595
Email: nomaa@nomaa.com.br
www.nomaa.com.br
Preços: entre 450 reais (125€), quarto Max, e 1120 reais (310€), suíte Ático.