Numa altura em que a crise começa a atingir as marcas premium, como pegar num carro de um segmento superior e conquistar clientes de segmentos inferiores? A Mercedes parece ter encontrado uma fórmula: casar mimos de carros premium da categoria D com particularidades escolhidas a dedo dos seus carros de segmento C. Isto é, o novo CLA pode até ir buscar a sua inspiração junto do seu irmão classe C, mas é com o mais modesto classe A que partilha vários aspectos estruturais e mecânicos.
No fundo, o CLA poderia ser descrito como um classe A para crescidos que ainda gostam de brincar. Até porque, embora tenha quatro portas, cinco lugares definidos e mais 40mm de comprimento face ao classe C, é difícil catalogá-lo como um carro indicado para famílias. Primeiro, porque as portas, devido ao corte coupé, não se revelam as mais simpáticas na hora de entrar ou sair. Depois, porque quem meça 1,80m e se sente no banco de trás irá provavelmente ganhar um torcicolo na viagem e algumas cãibras nas pernas – é que não só a altura é definida pelo corte da carroçaria como não sobra muito espaço para as pernas.
Por fim, porque três viajam no banco traseiro, mas quem calhar no lugar do meio dificilmente encontrará qualquer tipo de conforto, característica que vem na lista dos “queros” de quem adquire um Mercedes.
Já na mala pouca diferença se nota entre o CLA e o classe C. Aliás, é com surpresa que se abre o porta-bagagens deste CLA com capacidade para 470 litros (apenas menos cinco litros que aquele). A lamentar, porém, o acesso à bagageira, que poderia ser mais fácil.
Outra grande diferença entre o CLA e o superior classe C está nos materiais seleccionados e nos acabamentos. Isto não quer dizer que o CLA se apresenta mal acabado ou com materiais de má qualidade – aliás, os interiores, marcados pela sobriedade dos negros e cromados, consegue encher bem o olho. Mas são ligeiramente inferiores e por aí também se compreende a diferença no preço que fica a meio caminho entre o classe A e o C: o CLA, na versão diesel 220 CDi com caixa automática, custa 44.750 euros; o classe A 200 CDi com a mesma caixa arranca à volta dos 40 mil euros enquanto o classe C 220 CDi Coupé servido pela caixa DGS de sete relações ultrapassa os 50 mil euros.
Depois há a considerar o desempenho. E neste capítulo o CLA, na versão diesel 220 CDi com caixa automática, não deixa os créditos por mãos alheias. No conforto pode não ser o mais simpático – com uma suspensão dura, pede muitas vezes por uma condução agressiva –, mas em rolamento não se nega a nada, afirmando a sua potência equivalente a 170cv e aproveitando bem o facto de ter disponível o seu binário máximo, de 350 Nm, logo a partir das 1400rpm, esticando a força até às 3000rpm.
Estes números observam-se facilmente sempre que é necessária uma recuperação de marcha. E surpreendem pela positiva. Até porque a 7G-DCT, a eficiente caixa automática de dupla embraiagem da construtora alemã, tem um comportamento tão directo quanto se poderia desejar, o que torna este CLA um amigo da condução em estradas nas quais as curvas obrigam a um contínuo de reduções e acelerações. Mais ainda se se colocar a caixa em Sport. E mesmo neste caso os consumos, ao contrário do que se poderia supor, não assustam: juntando quilómetros urbanos, de estrada e em auto-estrada, conseguimos colocar a fasquia nos 6,5 litros ao fim de cem quilómetros. Já os 4,5 l/100km garantidos pela marca em circuito misto até podem ser conseguidos. Mas em viagem de auto-estrada e com o pé do acelerador bem certinho (e tranquilo).