Fugas - Motores

  • E quando 400 ovelhas aparecem...
    E quando 400 ovelhas aparecem... DR/Clube Escape Livre
  • A
    A "estrela" do passeio, o surfista McNamara DR/Clube Escape Livre
  • Uma prova para o condutor que gosta de apreciar paisagens distintas
    Uma prova para o condutor que gosta de apreciar paisagens distintas DR/Clube Escape Livre
  • Um pastor no alto da serra. O detalhe é que este veio do Mali
    Um pastor no alto da serra. O detalhe é que este veio do Mali DR/Clube Escape Livre
  • O passeio foi organizado pelo Clube Escape Livre
    O passeio foi organizado pelo Clube Escape Livre DR/Clube Escape Livre
  • O passeio foi organizado pelo Clube Escape Livre
    O passeio foi organizado pelo Clube Escape Livre DR/Clube Escape Livre

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Atracção integral pelo Património da Humanidade

Para um vislumbre do que foi o passeio, mais vale espreitar o vídeo da autoria de Renato Guerra, disponível na página de Facebook do Clube Escape Livre e no YouTube.

Esplendor de Outono

O Mercedes-Benz 4MATIC Experience de 2013 começou com a visita e prova de vinhos na Quinta de Campanhã, propriedade adquirida em 1916 pelo Visconde de Alijó. Hoje, a quinta de 27 hectares, que produz cerca de 200 pipas de vinho de mesa por ano, é também uma unidade de enoturismo, do mesmo grupo do Hotel Régua Douro. Nem todos os participantes conseguiram libertar-se dos afazeres na sexta-feira à tarde a tempo de participarem na visita à quinta e de disfrutarem das suas vistas sobre o vale do Douro. Foi mesmo no hotel que funcionou o secretariado da prova, que se realizou o primeiro briefing sobre a utilização do road book e que decorreu o jantar de boas-vindas. Com uma homenagem a... Garrett McNamara, advinhou.

No dia seguinte, a alvorada era às 7h30, porque a partida dos automóveis estava marcada para as 8h30. Convinha deitar cedo, mas ainda havia a visita ao Museu do Douro, instalado desde o final de 2008 na antiga Casa da Real Companhia Velha, e três curiosas exposições para ver: O México fotografado por Luís Buñuel (até 30 de Novembro), que reúne fotografias cuja composição foi emulada em planos dos filmes que o realizador surrealista filmou no seu México de adopção. O grupo viu também a Colecção de Retratos da Santa Casa da Misericórdia da Régua, uma exposição cujo interesse, além de histórico e sociológico, radica no facto de estarmos perante quadros restaurados pelas oficinas do museu, e O Douro de Georges Dussaud, com algumas das belíssimas imagens que o fotógrafo que nasceu francês, em 1934, na Bretanha, mas que se foi tornando cada vez mais português, captou na região a partir de 1980. A exposição de Dussaud é acompanhada pela exibição do documentário ?5 x 5?, produzido pelo Museu do Douro, que tratou de descobrir e entrevistar cinco pessoas retratadas pelo fotógrafo há cerca de 30 anos. E depois de um cálice de vinho do Porto no museu, foi tudo para a cama, que se fazia tarde.

Quando o despertador toca, às 7h15 de um sábado, é natural que os participantes num evento deste género se perguntem onde estavam com a cabeça quando se meteram nisto. Ao fim do dia, porém, já se terão rendido e disponibilizado para testemunhar que, se não fosse assim, se não tivessem atacado a estrada cedo, não haveria tempo para fazer tudo e ver tudo que o dia guardava.

E o que o dia guardava era só uma das paisagens mais belas do mundo: o rio a reflectir o esplendor dos socalcos de vides douradas ou pintadas de vermelho pelo Outono, a altura do ano em que o Douro se apresenta mais exuberante. Era o que o dia guardava e guardado ficou. Faltou o tempero do sol na etapa de ligação da Régua ao alto do Marão. À medida que os carros subiam, já por estradões, iam-se descobrindo cada vez mais imersos nas nuvens baixas. E no frio.

Já muito perto do cume da serra, a 1415 metros de altitude, a caravana foi barrada por um rebanho. Os 42 automóveis, cada um com pelo menos 200 cavalos, foram travados por ovelhas que saíam aos magotes do nevoeiro. "Cerca de quatrocentas", precisou o pastor que assistia à cena de longe, apoiado no cajado. Não era exactamente o pastor que se esperaria encontrar no cimo do Marão, já muito perto do Observatório Astronómico e dos retransmissores de radiotelevisão. Era um homem que estava muito longe do país de origem: a República do Mali. Usava luvas de esqui e trazia a cabeça coberta por um boné branco e envolta num cachecol preto, para se proteger do frio cortante. Num português rudimentar explicou que emigrara há oito anos, muito antes dos conflitos armados que vêm assolando aquele país africano - mais conhecido na Europa, até há bem pouco tempo, pela sua música. E contou que trabalhara na construção civil em Espanha, antes de chegar à serra do Marão.

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