Fugas - Motores

  • Patrícia Martins
  • Patrícia Martins
  • Patrícia Martins
  • Patrícia Martins
  • Patrícia Martins

Um diesel poupado e funcional servido a três cilindros

Por Carla B. Ribeiro

Poupança na altura de abastecer e um habitáculo espaçoso e confortável, num carro que peca pela inflação do seu preço quando se começa a equipá-lo.

Diríamos que é de uma grande injustiça apelidar de caro um veículo que pode custar desde 14.000€. Mas a versão mais equipada do utilitário médio da Hyundai consegue atingir mais de 21 mil euros. E é com uma viatura deste valor que arrancamos para constatar que, ao contrário do seu preço, se há princípio pelo qual o Hyundai i20 com o bloco diesel 1.1 de 75cv se rege é pela economia.

Confesso mesmo que é difícil de acreditar no que o painel de instrumentos nos informa. É que, depois de percorridos 200km, o ponteiro do combustível mal se tinha mexido. E depois de voltas e mais voltas exibia um depósito por metade. Nada de mais, se não tivermos em conta que foram feitos mais de 500km, quer por auto-estrada como por estradas sinuosas, e que o carro seguia com quatro ocupantes e bagagem. Assim, no capítulo da poupança de combustível, o bloco tricilíndrico que equipa este i20 é um verdadeiro vencedor. 

Com tamanha poupança não são, naturalmente, de esperar desempenhos desenfreados — embora a aceleração em 16 segundos dos zero aos 100 nos pareça demasiado lenta. Por isso, há muitas ultrapassagens que nem se tentam por algum sentido de ausência de segurança. No entanto, depois de atingir uma velocidade constante, o carro mantém sem quaisquer dificuldades o ritmo imposto — sobretudo em estrada aberta. Em caminhos mais sinuosos e com inclinações mais acentuadas, é notória a necessidade constante de se recorrer à caixa de velocidades para que se consiga manter um andamento razoável. O facto penaliza consumos, mas nada que seja chocante.

Mas o motor ganha pontos noutras vertentes, nomeadamente no (aparente) silêncio. Ou pelo menos no pouco barulho, tendo em conta trabalhar com apenas três cilindros. Mas, refira-se, esta percepção de baixo ruído é sobretudo apoiada por um habitáculo que prima por uma boa insonorização. É que, a baixas rotações, não se deixará de ter de conviver com a trepidação própria de um diesel, mais ainda sendo um diesel de três cilindros — no burburinho citadino, o ruído é mais notório, sobretudo se se seguir de janela aberta. Já o tecto de abrir transforma uma viagem num tormento de barulhos, sendo aconselhável deixar este mimo para circulações de pára-arranca ou que não se ultrapasse os 50 km/h.

Ainda assim, a Hyundai conseguiu um bom trabalho final, quer com o bloco diesel de 1.1 quer com a construção geral do veículo. Sobretudo no interior, em que é bem visível uma preocupação com a escolha dos materiais que equipam o veículo — não sendo de qualidade premium, a maior parte dos materiais revela características satisfatórias. Destaque sobretudo para os bancos que, nos lugares dianteiros, admitem viagens longas, garantindo um bom apoio ao nível lombar. No banco traseiro, os passageiros não se queixam de falta de espaço para as pernas, facto que não é alheio ao crescimento do próprio carro. 

O i20 está nesta versão de 2015 mais comprido, mais baixo e mais largo que o modelo anterior, com particular destaque para a distância entre eixos que cresceu 45mm, para 2570mm — valor que o coloca entre um VW Polo e um Renault Clio. Já a mala revela uma capacidade muito boa para o segmento em que se insere: 326 litros, o que o põe entre os veículos de semelhantes dimensões com maior porta-bagagem. 

Como já foi referido, o grande revés deste carro é o seu preço final depois de o “vestir” com todos os equipamentos disponíveis. Por um lado, tem um sabor amargo. Mas, por outro, é apreciável ver o esforço da Hyundai em colocar o i20 bem ao gosto europeu, sem que lhe falte pitada da parafernália tecnológica a que o mercado está cada vez mais habituado.

De série, pelos tais 14.000€, o i20 1.1 CRDi de 75cv inclui luzes de boas-vindas e de acompanhamento, seis airbags, sistema Isofix, ABS com distribuição da força de travagem e sistema de assistência à travagem, sistema de ajuda em subidas, alarme periférico, banco do condutor com regulação em altura, banco traseiro rebatível a 60/40, comando à distância, coluna de direcção regulável em altura, direcção assistida, duas tomadas de corrente auxiliar, portas USB, faróis de nevoeiro, porta-luvas iluminado e refrigerado, monitorização da pressão dos pneus e vidros eléctricos à frente (manuais atrás). Por isso, quando se fala da versão base não se pode considerar um carro despido e pouco equipado. E os sete mil euros a mais do veículo ensaiado são gastos em coisas que poderão ser perfeitamente dispensáveis: jantes de 16’’, tecto de abrir e panorâmico, luzes diurnas em LED, luz de curva, ar condicionado automático, sensores de luz e de chuva, espelhos exteriores rebatíveis electricamente, apoio de braço central, cintos ajustáveis em altura e espelho electrocromático.

Por tudo isto, é de pensar se os pacotes opcionais, que tanto inflacionam o preço, são mesmo necessários — é que pelo bloco e pelo desempenho, o i20 1.1 CRDi de 75cv vale por si.

--%>