Fugas - Motores

Daniel Rocha

Um atentado à razão que personifica um hino à paixão

Por Carla B. Ribeiro

Mais potência do que alguma vez se pode usar e consumos de fazer corar. Tudo parece indicar que este carro não é uma escolha certa. Mas, quando damos por isso, já nos conquistou.

Bem que tentámos. Também questionámos os que se mostraram apaixonados pela sua silhueta e sobretudo pela sua sonoridade (“barulho monstro” será mais adequado). Mas é impossível encontrar um argumento lógico que justifique a compra deste carro. É como aquele rapaz rebelde por quem nos apaixonamos aos 15 anos. Sabemos que não vai correr bem. E mesmo assim não resistimos.

Ainda assim, obstinadamente, tentámos encontrar alguma racionalidade nesta paixão. A começar pela funcionalidade — afinal de contas, trata-se de um SUV, tão vocacionado a andar pelo asfalto como a percorrer trilhos acidentados. Mas quem é que no seu perfeito juízo colocaria um veículo cujo preço se situa acima da fasquia dos 150.000€ (sem extras!) no meio do mato ou a correr o risco de levar com uma chuva de pedras em cima? Pois!

Tente-se então pela potência. E aí não há concorrência à altura entre os SUV: o X5 M é o mais potente entre os que povoam o mercado. São 575cv e um binário máximo de 750 Nm à nossa disposição a partir das 2200 rotações que se mantém até às 5000rpm. Mas estes números não seriam tão mais apetecíveis num desportivo puro e duro? 

Depois, há o sustento. Não que a poupança de combustível seja uma preocupação para quem vai buscar um V8 a gasolina de quase duas toneladas e meia. Mas é quase indecoroso o número que registámos como média de consumo: mais de 14 litros sem grandes avarias (nem preocupações de poupança); accionados os sistemas desportivos, é assistir rapidamente a uma escalada que depressa atinge os 20 litros. A bem da verdade, tentámos por tudo ver se era possível registar os 11,1 litros anunciados pela marca e, com os modos que privilegiam tanto o conforto como a eficiência seleccionados e a cumprir escrupulosamente os limites de velocidade, apoiados por um muito eficaz cruise control, fomos “mais papistas que o Papa”, atingindo uma média, ao fim de 250km de estrada, de 10,1 l/100km. No entanto, não se aconselha ninguém a tentar a proeza. É que ter nas mãos tantos cavalos sem lhes soltar a rédea não tem piadinha nenhuma.

Com tantos contras, não é fácil explicar por que nos deixámos perder de amores por um carro que: 1) tem todas as funcionalidades para no fim não ter funcionalidade nenhuma; 2) tem mais potência do que as estradas (e a lei) nos permitem; 3) obriga-nos a gastar mais no seu sustento do que na alimentação de três adolescentes esfomeados. 

Mas é mesmo assim: o X5 M não é, nem nunca será, uma escolha racional — é forjado a emoções e delineado a paixão pura. Daquelas que até dão borboletas na barriga — não acreditam? É experimentar carregar com um bocadinho de mais brusquidão no acelerador… Ou nem é preciso.

Num primeiro olhar, e para lá da constatação óbvia “de que é tão grande”, como repetidamente fomos ouvindo, o X5 M arreganha facilmente o dente, mostrando uma face que se destaca pela agressividade, imposta quer na dupla grelha dianteira, cada “rim” com um conjunto de sete frisos duplos bem destacados na vertical, quer na sua assinatura luminosa que, rasgada, não passa despercebida. E não nos esqueçamos das aberturas laterais, bem pronunciadas, a lembrarem o dorso de um tubarão assassino, que são mais um pormenor a definir uma silhueta bem atlética e musculada.

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