Fugas - Motores

  • Patrícia Martins
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Um purista americano à conquista da Europa

Por Carla B. Ribeiro

Depois de 50 anos a povoar o imaginário europeu, o Mustang chegou ao Velho Continente. E com o 5.0 de 421cv não se inibe de mostrar de que fibra é feito.

Estávamos em 1965 e o agente 007 era assumido por Sean Connery. Numa sequência emocionante, Bond, no seu mui britânico Aston Martin, brinca ao jogo do gato e do rato com Tilly Masterson, interpretada pela actriz Tania Mallet, aos comandos de um 1964.5 Ford Mustang Convertible. Foi a estreia do musculado modelo em grandes produções cinematográficas. Mas não se ficou por aí, tendo entrado em quase quatro mil filmes. 

É pelo cinema e pelo pequeno ecrã que o carro vai, ao longo de cinco décadas, conquistando o estatuto de ícone, ao mesmo tempo que fora dos Estados Unidos a sua posse ou mesmo a possibilidade de conduzir um não passava de um sonho de difícil concretização. Até que a Ford tomou uma decisão arrojada: democratizar o tão americano Mustang e levá-lo aos quatro cantos do mundo, Europa incluída, com a mesma premissa base. Ou seja, colocar a potência (neste caso específico são 421cv e um torque de 530 Nm) a um preço acessível. É que, não podendo entrar na lista dos carros baratos, por 88 mil euros, é difícil encontrar um veículo com potência e dimensões equivalentes. Já o 2.3 litros de 317cv será comercializado a partir de 47 mil euros.

É depois de se perceber todas estas nuances que se consegue entender melhor as reacções que a sua presença desperta: não há rosto que se mantenha inalterado à sua passagem. E poucos são os que resistem em enfiar o nariz pelo habitáculo adentro. Se dúvidas houvesse, este não é um carro para se passar despercebido.

Tal também não seria possível, mesmo que quiséssemos, tendo em conta o ronco que se solta deste V8 assim que carregamos no botão de ignição e que se vai tornando mais audível à medida que se sobe de regime. Diz a Ford que trabalhou o barulho do motor para que este se assemelhe ao original da década de 60 do século passado. Não tivemos um destes à mão para que pudéssemos comparar, mas não há dúvidas de que a forma como se expressa não pertence ao século XXI, conferindo-lhe uma certa aura vintage.

Outros pormenores remetem para o século XX sem que se possa considerar este um carro antiquado: o desenho do tablier, suficientemente cuidado, o friso sobre o porta-luvas com a designação Mustang 1964, o perfil dos bancos — à frente, tipo baquet; atrás, dois assentos que se afundam para proporcionarem apoio lombar. Claro que mesmo com os bancos fundos será difícil para um adulto encontrar conforto nos dois bancos traseiros — as entradas têm de ser feitas por ambos os lados, estando o carro dividido a meio pelo túnel de transmissão. Já à frente, exceptuando a ginástica requerida para ir buscar o cinto de segurança (os apoios dos baquets estão lá, mas facilmente deixam fugir a alça do cinto), há espaço suficiente para que, mesmo num carro tão fechado — houve quem nos dissesse até que se sentia dentro de um tanque de guerra —, se consiga alguma liberdade de movimentos. A posição de condução, ao contrário da maioria dos desportivos que pede por uma baixa, exige levantar um pouco o banco para que possamos ultrapassar uma frente não só extensa como alta.

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