Fugas - Motores

  • Nuno Ferreira Santos
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Um galã preparado para (quase) tudo

Por Carla B. Ribeiro

Depois de uma ausência de dez anos, o SUV compacto da Honda vestiu-se a preceito, modernizou o seu conceito e, entre outras motorizações, adoptou o animado e poupado bloco diesel 1.6.

A história poderia ter sido madrasta com o HR-V e tê-lo deixado para trás quando, em 2005, a Honda decidiu parar com a produção do seu SUV compacto, um veículo pensado para o Japão, mas com muitos traços europeus, onde conseguiu vingar. No entanto, dez anos depois, a Honda decidiu ressuscitar o modelo, adaptando-o aos desejos do mercado que assiste a uma verdadeira invasão “suviana”.

No caso do HR-V há desde logo um ponto a seu favor — o bloco diesel 1.6 da Honda, estreado no Civic em 2012, e que provou a capacidade nipónica de inovar nos propulsores a gasóleo. No caso do HR-V já com 120cv, este motor é a prova de que é possível aliar baixos consumos a uma energia que parece inesgotável, tirando partido de uma enorme disponibilidade de binário: no caso, 300 Nm às 2000 rotações. Só por isso, o HR-V surgiu como uma aposta ganha e não é difícil comprovar o óbvio. A condução mostra-se bastante animada e, no final do dia, os consumos conseguem ficar-se por uma média em torno dos cinco litros (a marca oficial é de 4,0 l/100km) — nada mau para os dias que correm. Além do mais, tendo em conta o seu peso, que acusa cerca de cem quilos menos que o Civic equipado com a mesma motorização, o HR-V consegue ganhar ao familiar em duas décimas de segundo na aceleração dos 0 aos 100 km/h. Nada de muito significativo, mas um bom indicador de como a casa de Tóquio não pretende ficar para trás na corrida por um lugar ao sol entre os crossover.

Na habitabilidade, o HR-V conquista facilmente qualquer condutor pela posição que oferece, assim como pelo apoio que se consegue obter dos bancos, confortáveis q.b. para que se aguente uma longa viagem sem queixumes. Já os demais ocupantes não terão por que reclamar de falta de espaço — excepção feita talvez a quem se sentar no meio do banco traseiro, o que não deveria acontecer num carro de cinco lugares assumidos. Ainda assim, nada de muito preocupante numa utilização quotidiana.

No espaço há ainda a louvar uma mala que entra para as melhores entre os seus pares, com uma capacidade mínima de 470 litros. Claro que para tal foi sacrificado o pneu sobresselente, o que, no caso de um crossover, supostamente preparado para enfrentar pequenas dificuldades do fora de estrada, não nos parece a solução mais indicada. Continuando pelo porta-bagagens, o seu acesso é fácil e a sua forma, de linhas direitas, ajuda a que a arrumação seja quase intuitiva. E, no caso de haver necessidade de transportar volumes maiores ou de formas mais irregulares, os Magic Seat System da Honda, em que os assentos dos bancos da segunda fila levantam-se como os das cadeiras de cinema, possibilitam o transporte de volumes com até 1240mm de altura. Quando rebatidos, num instante o carro de cinco lugares transforma-se num “burro de carga”, com a capacidade a crescer até uns generosos 1533 litros.

Relativamente ao design, o HR-V não é carro de encher o olho nem de despertar atenções fáceis, mas por outro lado é um carro que aposta num visual simples e bonito. Talvez por isso, não é difícil adivinhar que não será um carro a passar de moda facilmente. A Honda dotou este SUV com vários detalhes que lhe conferem robustez, e até nos levam a crer que conseguiríamos ir mais longe do que na realidade conseguimos (por exemplo, vários pormenores parecem tornar o carro com mais altura ao solo do que a que na realidade tem), mas suavizou algumas linhas mais bruscas típicas do seu design. Dessa forma é bem possível que o carro agrade a gregos e troianos. Pelo interior nota-se um esforço no mesmo sentido: tornar tudo mais sóbrio, mais suave, mais sofisticado. E bem mais arrumado do que se estava habituado a ver num carro da marca. Ainda assim, há aqui e ali um ou outro pormenor que nos fazem viajar no tempo para trás. Não será isso que impedirá o sucesso do HR-V, mas o design dos seus interiores, ainda que bastante bons, podem ser aprimorados trazendo-nos de volta ao presente.

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