Fugas - Motores

  • Nuno Ferreira Santos
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Uma viagem ao passado com uma doce besta

Por Nuno Ferreira Santos

Confesso: não tenho o corpo coberto de tattoos nem o cabelo fixo com cera. Também não exibo uma barba tratada e desenhada. Nem sequer uso capacete a condizer. Ainda assim, experimentei uma scrambler, a BMW nineT Scrambler. Melhor: uma moto a que hoje chamamos scrambler.

Nos primórdios dos motociclos, não existiam motos de diferentes características. Não havia motos de estrada, cruisers, de turismo, choppers, desportivas, naked, adventure-touring, supermotards, trails, motocross, scooters. Nem sequer diferenciação entre motos de estrada e de fora de estrada. Eram todas “normais”, motos casuais e clássicas, para circularem em estradas pavimentadas sem características específicas. 

A normalidade era tal que, para manter a procura em alta, houve necessidade de iniciar a costumização, satisfazendo distintos desejos de diferentes “tribos”. Foi assim que, nos anos 1950, em Inglaterra, surgiram as primeiras café racers, motos de estrada, modificadas para se tornarem mais rápidas nas corridas entre cafés. 
O termo scrambler, “alguém que escala”, surge no final daquela década para designar as motos modificadas para correrem fora de estrada. As alterações são bem visíveis: o volante mais largo e reforçado para suportar quedas, o escape subido e colocado numa zona superior para estar longe do chão, suspensões com maior curso e rodas maiores com pneus que pudessem ser usados fora do asfalto. Basicamente, as mudanças necessárias para as motos ficarem mais versáteis e assim ganharem corridas do ponto A ao ponto B, independentemente do caminho escolhido.

Sempre que falo de motos “normais” fora de estrada, penso em Steve McQueen (e no seu duplo Bud Ekins), no filme de 1963 Fugindo do Inferno, com uma Triumph TR6 Trophy Bird, a desafiar as leis da gravidade, passando por cima de cercas da II Grande Guerra, tentando fugir das forças nazis.

Com a popularidade das scrambler a crescer, nos anos 1960 os construtores renderam-se à moda e começaram a lançar motos já com estas configurações e com o nome de scrambler, origem das actuais motos de trail. Talvez a mais famosa até hoje tenha sido a Triumph Scrambler mas também ficou conhecida a Honda CL350.

A BMW R nineT Scrambler que tenho à minha frente para experimentar, com jantes de alumínio e pneus de estrada, não me parece a moto mais preparada para fazer off road. Mas com o mau tempo que se faz sentir não creio que me vá aventurar por esses terrenos. Entre outros produtos, pode-se configurar a moto com jantes de raios e pneus mistos disponíveis como equipamento opcional pela BMW Motorrad.
Decido então experimentar a moto como um belo domingueiro que vai dar uns pequenos passeios cheio de estilo e alegria. A grande diferença é que tenho de o fazer à chuva.

Sentado na BMW nineT R1200 Scrambler não imaginava o que ia sentir ao rodar a chave da ignição. Já de capacete posto, rodo a chave e, mais que a surpresa do magnífico ronco de motor a sair pelo escape, foi o solavanco que levei da moto.

Foi a minha primeira experiência com o motor Boxer R1200 e, como o veio do motor está no sentido da moto, quando aceleramos a moto inclina para o lado direito. A reacção, assustada, foi de firmar as mãos nos punhos para segurar a moto. Foi uma sensação nova para mim, parecia que estava sentado em cima de um animal vivo. E um animal com aquele ronco mete respeito. Estou em cima de uma besta de 220kg e com 110cv. E continua a chover.

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