Fugas - Motores

  • Nuno Ferreira Santos
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Uma viagem ao passado com uma doce besta

Um desafio com muito respeito. A sorrir da adrenalina e apreensivo pela responsabilidade, engreno a embraiagem e coloco a caixa de velocidades em primeira… Não entrou a mudança?! Não ouvi nada, não senti nada. Mas entrou, sim. A embraiagem a seco de disco simples e accionamento hidráulico e a caixa de seis velocidades com veio de sincronização formam uma deliciosa parelha.
Largo a embraiagem e começo a experiência. O desenho da moto deixa-nos numa posição confortável, sinto-me bem encaixado. O tracejado branco no alcatrão molhado começa a passar por baixo. Com receio da “besta”, conduzo com precaução e suavidade, sem rolar muito o punho direito, vou-me deliciando em subir as velocidades da caixa.

E o motor? Um bicilíndrico a quatro tempos. Duas cabeças gigantes de 600cc, cada uma a sair horizontalmente para cada lado do bloco do motor. Um motor que parece não caber na moto. Se a moto é grande por fora, ainda parece maior por dentro, temos motor que nunca mais acaba. Com uma potência de 110cv e um binário de 116 Nm às 6000rpm tenho sempre motor. Sempre!  E que gozo que isso me dá. 

Se estivermos adormecidos, esta “doce besta” é moto para nos voltar a acordar e fazer sorrir como crianças. “Doce”, porque apesar de ser um motor bicilíndrico podemos subir as mudanças com pouca rotação sem que o motor se queixe, não “batendo” em mudanças altas com baixas rotações. Mas se enrolarmos o punho tem binário para passar de doce a besta num ápice. 

Beleza retro
A nineT Scrambler não passa despercebida: tem um design bastante apelativo e ninguém fica indiferente à beleza da possante moto. O grande depósito de combustível de puro aço em cinza mate, o volante bastante largo e numa posição elevada (com uns espelhos colocados demasiado perto do condutor), o monobraço atrás a mostrar a bonita jante estrelada em alumínio com 17” (maior à frente com 19”), os colectores bem visíveis e serpenteando até às duas ponteiras douradas junto do banco, um banco de cor camel, com costuras e muito bonito mas um pouco duro, confortável mas para pequenos percursos. Em suma, uma obra de fazer parar as pessoas para tirar fotografias nestes tempos modernos com as modas retro.

Já o belo farol redondo faz pandã com o único manómetro que exibe um velocímetro analógico e várias informações digitais — temperatura do óleo do motor, horas, vários trips, luzes avisadoras da caixa, da gasolina, etc.. No meio disto tudo, senti a falta de um conta-rotações para ver o ponteiro a trepar rapidamente a sua escala.

Estou sentado num restaurante e continua a chover lá fora, onde consigo ver a “besta” esperando por mim. Vejo um casal na casa dos 60 anos, juntinhos debaixo do chapéu-de-chuva que os protege, a quem a moto não passou despercebida, ficar mais de cinco minutos a deliciar-se com ela. Deviam estar a viver outros tempos nos dias de hoje e nem a chuva os demoveu de junto da bela BMW R nineT Scrambler.

Não estavam as melhores condições meteorológicas para me ter envolvido nesta relação. Uma moto com potência e binário que, com piso molhado, se não for tratada com amor pode “morder”; uma moto minimalista sem protecções contra o vento, onde a água salpica por todo o lado; umas suspensões “secas” e duras que em estrada lisa se comportam lindamente mas ao mínimo buraco nos faz sofrer, e bem. As condições para fazer uma viagem a dois também não eram as melhores, mas esta não é a moto ideal para confortáveis viagens, muito menos a dois.

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