A excelência do vinho do Porto
Embora com dificuldades, o vinho do Porto vai resistindo às crescentes ameaças que pairam sobre os vinhos mais alcoólicos e tem vindo a amealhar prémios só ao alcance dos melhores do mundo. No início de 2010, o Dow's Porto Vintage 2007, do grupo Symington, foi classificado com 100 pontos (o máximo possível) pela revista Wine Spectator, a mais influente do sector, a par da Wine Advocate, de Robert Parker, o guru do sector. Nunca nenhum champanhe atingiu tal classificação.
Já no final do ano, o tawny Taylor's Scion, um vinho do Porto com 155 anos que é vendido a 2500 euros a garrafa, foi também pontuado com 100 pontos por Neil Martin, o provador de vinho do Porto para Robert Parker.
Sobretudo para as categorias especiais, 2010 revelou-se um grande ano. Para o vinho do Porto corrente, foi um ano de estagnação.
Podia ser pior.
Prémios e exportações em alta
O ano de 2010 foi muito bom para os vinhos de mesa portugueses.
Em termos de exportações, foi mesmo um dos melhores de sempre. O sector mostrou um grande dinamismo, apesar da crise financeira e económica mundial.
É verdade que o preço médio por litro ainda é relativamente baixo, mas a qualidade geral tem vindo a aumentar de forma significativa, o que explica as inúmeras distinções internacionais conseguidas em 2010. Dezenas de vinhos nacionais obtiveram mais de 90 pontos nas avaliações das principais revistas do sector: Wine Spectator, Wine Advocate, Decanter, Wine Enthusiast e Wine & Spirits. Mais uma vez, a região do Douro voltou a ser a mais premiada, com os vinhos dos Douro Boys (Crasto, Niepoort, Vallado e Vale Meão) à cabeça.
Mas os maiores elogios vão para o espumante Vértice Gouveio Bruto 2004, que obteve 90 pontos da Wine Avocate (uma das maiores pontuações de sempre atribuídas a um espumante português), e para o tinto CARM Reserva 2007, que foi eleito o 9º melhor vinho de 2010 pela Wine Spectator.
Wines of Portugal, umbrela contra o desconhecimento
Mais vale tarde do que nunca. O lançamento, a meio do ano passado, da marca Wines Of Portugal-A world of difference foi uma boa notícia e pode ajudar a melhorar a notoriedade do país. Apesar de ser o berço do vinho do Porto e do Madeira, dois dos melhores vinhos do mundo, Portugal continua a ser "desconhecido" como produtor de vinhos de qualidade. Associar o país a uma cultura vinícola secular e à diversidade de castas, vinhos e paisagens vitícolas é a aposta certa.
Num tempo em que começa a ser tudo igual, vender a diferença e a originalidade pode ser um grande trunfo.
O motor do Brasil
O Brasil, que em poucos anos pode transformar-se na quinta potência económica mundial, está a tornar-se num grande mercado para os vinhos portugueses. Apesar das elevadas taxas alfandegárias, as vendas de vinho, de mesa e do Porto, aumentaram de forma acentuada em 2010. A classe média brasileira não pára de crescer e os brasileiros ricos são mesmo muito ricos e não se importam de pagar fortunas por grandes vinhos. A ligação afectiva a Portugal também ajuda.
O negócio dos 50 melhores
Atenta à realidade brasileira, a Viniportugal, associação de promoção do vinho português em mercados prioritários, fez no Brasil o que tem vindo a fazer em Inglaterra: convidou dois jornalistas, o inglês Charles Metcalfe e o brasileiro Marcelo Coppelo, para que escolhessem os 50 melhores vinhos portugueses provados em 2010. Os jornalistas estiveram várias vezes em Portugal, com tudo pago, e apresentaram o ranking em São Paulo e no Rio de Janeiro. A iniciativa é louvável e teve o seu impacto, mas, desta vez, não saiu de graça aos produtores eleitos, que tiveram de pagar 760 euros mais IVA por cada um dos vinhos escolhidos ao jornalista brasileiro. O pretexto invocado pela Viniportugal para pedir o dinheiro aos produtores foi o lançamento no Brasil de uma brochura com os 50 vinhos escolhidos. Alguns produtores, poucos, recusaramse a pagar. Um deles foi Luís Pato, vice-presidente da própria Viniportugal. O que saiu não foi nenhuma brochura, mas sim uma revista que marca a estreia de um novo projecto editorial do jornalista brasileiro. Quem pagou teve direito a duas páginas, quem não pagou teve direito a meia página. Luís Pato prescindiu de qualquer espaço.
A revolução dos brancos
Nos últimos anos, a ideia de que Portugal é um país de vinho tinto tem vindo a desvanecerse.
O crescimento em volume, e, acima de tudo, em qualidade dos vinhos brancos nacionais é uma das boas notícias do sector.
Em 2010, chegaram ao mercado grandes vinhos brancos de quase todas as regiões. A Bairrada (Luís Pato, Bágeiras, Quinta do Encontro, Campolargo) confi rmou o seu grande potencial para a produção de brancos distintos e personalizados, o Alentejo continua a fazer vinhos muito bem adaptados ao mercado, as Beiras e Lisboa começam a explorar o trunfo da frescura e o Douro mostrou que também pode fazer brancos ao nível dos seus tintos.
Mas quem mais se distinguiu foram o Dão (Álvaro de Castro, Quinta dos Roques, Paço dos Cunhas de Santar, Cabriz, Quinta das Marias, Quinta dos Carvalhais) e os Vinhos Verdes (Soalheiro, Anselmo Mendes, Ameal, Casa de Cello, Afros). A primeira graças, sobretudo, ao Encruzado e a segunda ao Alvarinho e ao Loureiro. Três castas de qualidade mundial.
Conferência Internacional sobre os vinhos portugueses
No passado mês de Dezembro, a Viniportugal trouxe ao Porto alguns dos principais críticos e importadores de vinhos do mundo, a pretexto da primeira Wines Of Portugal International Conference.
Durante três dias, centenas de convidados, a maioria dos quais estrangeiros, puderam conhecer melhor o panorama actual dos vinhos nacionais. Uma grande acção de promoção e uma boa forma de terminar o ano.
O mito da Touriga Nacional
A ideia de concentrar grande parte da Wines Of Portugal International Conference na promoção da Touriga Nacional como casta bandeira do país poderá não ter dado os resultados esperados.
Da escolha do Top 10 de Touriga Nacional, salvo um ou outro vinho, resultou uma lista que não teria lugar num ranking dos 40 ou 50 melhores vinhos portugueses.
Mais do que tornar mundialmente conhecida uma casta autóctone, por muito boa que ela seja, Portugal precisa, primeiro, de se dar a conhecer como produtor de vinhos de qualidade. Para que a mensagem comece a passar, o país precisa de lançar mãos de todos os seus melhores trunfos, não de uma casta só, e esses são o vinho do Porto, o Madeira, o Moscatel de Setúbal, os grandes tintos de lote, os grandes brancos monovarietais, a diversidade de castas, a tradição, a gastronomia e a paisagem.
Segundo os ecos que saíram da conferência, foi precisamente essa a ideia defendida por alguns dos especialistas convidados. A Touriga Nacional é uma grande casta, sobretudo em lote, mas como casta bandeira é um mito sebastiânico.
Vinho molecular no lugar de Vinho do Porto
O jantar de gala da Wines Of Portugal International Conference que decorreu no Palácio da Bolsa, no Porto, terminou com um vinho molecular. Quando seria expectável que o remate da refeição fosse feito com um grande vinho do Porto - onde entra a Touriga Nacional -, o vinho servido foi o FLP 2007, um branco doce bairradino de Filipa e Luís Pato feito por crio-extracção.
O vinho pode ser bom, mas não cabia ali. Com tantos estrangeiros infl uentes na sala, impunha-se um grande Porto Vintage ou um Tawny velho. O problema é que os vinhos do Porto, e os Madeira também, não pagam taxa à Viniportugal, têm promoção própria. Daí a sua ausência do repasto. Quem explica isto a um estrangeiro?