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Uma visão pessoalíssima sobre 4200 vinhos portugueses e estrangeiros

Por Pedro Garcias

Já está no mercado o Guia de Vinhos 2011, de Rui Falcão, redactor da revista Wine e colunista da Fugas. O livro (edição Clube do Autor, 512 págs, 19,95€) tem a particularidade de incluir um interessante capítulo dedicado a vinhos estrangeiros, que, desta vez, já vêm com referências sobre a região de origem, falha de que padeciam os guias anteriores.

O lançamento, crescente, de novos vinhos tem engrossado os guias. Este surge com um volume assinalável (4200 vinhos classificados) e só não é maior porque Rui Falcão não inclui notas descritivas de todos os vinhos, limitando-se em relação a muitos deles, sobretudos às segundas marcas, a atribuir uma nota. Para os produtores visados não deve ser muito agradável, mas percebese a opção. Também se entende, e se aprecia, a inclusão dos descritivos e das classificações de algumas provas verticais (o mesmo vinho provado ao longo de várias colheitas), porque permite ao leitor ficar com uma melhor ideia sobre o valor e o comportamento do vinho em causa.

À semelhança do guia anterior, Rui Falcão volta a destacar as regiões do Alentejo (o motor de Portugal, a que mais vinho vende) e do Douro (a que melhores vinhos produz). Faz um grande e merecido elogio aos vinhos fortificados da Madeira e critica com dureza, e justamente, a Bairrada e o Dão (porque têm um enorme potencial e são poucos os grandes vinhos, e quase sempre feitos pelos menos produtores). Lamenta também, e com razão, que nos Vinhos Verdes - "o nome", diz, "é de uma infelicidade extrema, ao sugerir e insinuar que o vinho não terá origem em uvas inteiramente maduras" - sejam "tão poucos os produtores que aproveitam as condições naturais da região para cavalgar a onda internacional de vinhos brancos leves, frescos frutados, ligeiramente minerais e pouco expressivos".

Rui Falcão não deixa, no entanto, de realçar "os maravilhosos vinhos Alvarinho que saem dos concelhos de Melgaço e Monção". Aqui, diz, "nascem alguns dos melhores brancos portugueses". Porém, vaise ler o guia e não encontramos uma única referência aos diversos Alvarinho feitos por Anselmo Mendes. Se a casta Alvarinho tem a fama que tem, deve-o, em grande parte, à família Cerdeira (Soalheiro) e a Anselmo Mendes, que na colheita de 2009 fez vinhos deslumbrantes. Mas Rui Falcão só tem referências elogiosas para os Soalheiro. A ausência de qualquer referência aos vinhos de Anselmo Mendes, nem positiva nem negativa, é incompreensível, até porque o autor avalia vinhos medíocres da região dos Vinhos Verdes e que lhe merecem apenas 10 valores em 20 possíveis.

Talvez Anselmo Mendes não tenha enviado os seus vinhos para prova. No guia Vinhos de Portugal, de João Paulo Martins, também acontece não haver notas de prova de alguns bons vinhos só porque o produtor não enviou amostras, o qual ainda se arrisca a ser criticado pelo autor. Mas quem faz guias e pretende que eles sejam uma espécie de bíblia do sector (pelo menos, é assim que os anunciam) tem a obrigação de escrever sobre todos os vinhos que merecem ser falados, nem que para isso tenha que os comprar. Os leitores merecem esse esforço e dever.

Ao ignorar os vinhos de um dos melhores enólogos portugueses, entre outros, o guia de Rui Falcão comete um pecado capital. E é uma pena, porque o livro é interessante e Rui Falcão tem créditos no meio.

Claro que os guias são sempre subjectivos, pois reflectem apenas a opinião do seu autor. Mas quem dedica alguns parágrafos a falar do seu sentido de responsabilidade, imparcialidade e rigor, como acontece com Rui Falcão, não pode ter falhas destas. Ou então não deve permitir que o seu livro seja apresentado, na capa, como "o mais completo Guia de Vinhos", com notas sobre "os melhores vinhos de Portugal e do Mundo".

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