Fugas - notícias

Raúl Pérez e o renascimento dos vinhos de Trás-os-Montes

Por Pedro Garcias

Os vinhos de Raúl Pérez, de 38 anos, um enólogo célebre em Espanha e já com notoriedade mundial, que gosta de fazer vinhos em zonas difíceis, com castas pouco conhecidas e técnicas antigas. Incluindo na aldeia de Sonim, em Valpaços, onde cria um tinto de Bastardo.

O leonês Raúl Pérez, de 38 anos, é um dos enólogos da moda em Espanha e, nos tempos recentes, ganhou uma notoriedade planetária graças às altas pontuações que o guru Robert Parker tem atribuído a alguns dos seus vinhos. Está envolvido em quase duas dezenas de projectos em várias zonas do mundo, mas não é o protótipo do enólogo voador, que empresta o nome a qualquer marca. O que o move, segundo diz, é o desafio de fazer vinhos em zonas difíceis e desconhecidas, muito ligados à terra, de preferência com recurso a castas pouco conhecidas e usando técnicas antigas. Vinhos étnicos e originais, que encantem mais pela diferença do que pela perfeição e que fujam à monotonia do gosto. Foi esse desafio que o levou à Galiza, onde, além do Alvarinho e da Mencía, começou a investir na casta Espadeiro; e, mais recentemente, até à aldeia de Sonim, no concelho de Valpaços, onde plantou um hectare de vinha e está a fazer um tinto de Bastardo em parceria com um produtor local, que comercializa a marca Casal Faria.

Raúl Pérez descobriu Valpaços através do irmão, que possui uma empresa de instalação de vinhas e tem realizado diversos trabalhos em Trás-os-Montes, mas a casta Bastardo não lhe era desconhecida. Esta variedade, que equivalerá à casta Trousseau, da região francesa de Jura, já tinha entrado no lote do vinho Pablo Palazuelo 2005, que elaborou exclusivamente para a sofi sticada revista espanhola Matador. Pouco mais de duas mil garrafas provenientes de uma pequena vinha com 130 anos da região leonesa de Bierzo.

Ao lado, na Galiza, o Bastardo leva também o nome de Merenção e, a par da Mencía, do Caiño e do Alicante, entre outras, entra com frequência em alguns dos vinhos que Raúl Pérez está a fazer, como consultor, nesta região. Um deles, El Pecado, feito só de Mencía (a Jaen, do Dão), trouxe a pequena região de Ribeira Sacra (escarpada, xistosa e cheia de afi nidades com o Douro) para a ribalta, depois de Robert Parker, através do seu colaborador Jay Miller, ter atribuído 98 pontos (em 100 possíveis) à colheita de 2007. Um outro vinho feito por Pérez, o tinto A Trabe 2006, da região galega de Monterrei, perto de Chaves, obteve 97 pontos.

Em Trás-os-Montes, já se fazem apostas sobre quantos pontos dará Parker ao vinho que Raúl Pérez está a fazer em Valpaços. Mas, mesmo que não atinja as estratosféricas pontuações de El Pecado e A Trabe, só a evocação do nome do enólogo espanhol pode dar um impulso importante aos vinhos transmontanos e ajudar a acabar com a ideia de que de Chaves a Miranda do Douro, passando por Valpaços, só se fazem vinhos rudes.

Na verdade, foi assim durante muito tempo. Mas, nos últimos anos, o panorama tem vindo a mudar e já começam a aparecer no mercado alguns vinhos interessantes, como a Fugas pôde recentemente comprovar num almoço/demonstração que a Comissão Vitivinícola Regional de Trás-os-Montes realizou na Escola de Hotelaria e Turismo de Mirandela (elaborado e servido pelos alunos). Trás-os-Montes está a fazer o caminho inverso do Douro. Aqui, fez-se um grande percurso no vinho e aposta-se agora também em azeite de qualidade.

--%>