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Madalena, a igreja portuguesa que foi eleita o «melhor recanto de Espanha»

Por Luís J. Santos, Romana Borja-Santos

A Igreja da Madalena, monumento manuelino em Olivença, venceu o concurso de "O Melhor Recanto de Espanha". Para a vitória, o voto de milhares portugueses deverá ter sido decisivo. Revemos como o monumento conquistou o ceptro e recordamos um passeio pela cidade.

É oficial: "El Mejor Rincón [recanto] de España" é uma igreja portuguesa, edificada no séc. XVI. Uma eleição popular, "à 7 Maravilhas" deu a vitória à Igreja de Santa Maria Madalena, jóia do manuelino e do património de Olivença. Além de ter ajudado a reacender, uma vez mais, a disputa luso-espanhola sobre a cidade.

A Madalena (Magdalena do outro lado da fronteira), bateu por mais de 20 mil votos a outra finalista, uma lagoa de Castela-La Mancha. Na página do concurso, terminado às 00h de quarta-feira, sublinham-se as qualidades da igreja que a terão levado à vitória: "pela beleza das suas colunas, pela luz espectacular que a invade a cada meio-dia, porque a história a tornou num lugar muito especial e, sobretudo, porque vocês assim o decidiram".

Este "vocês" tem que se lhe diga, já que também será dirigido a muitos milhares de portugueses: comunidades online como o Descobrir Portugal (com mais de meio milhão de aderentes no Facebook) ou a revista online a que a página está directamente ligada, Café Portugal, ou a página Vontades do Alentejo, levaram a cabo uma campanha de "guerrilha" na net, apelando ao voto massivo dos portugueses no templo manuelino. O objectivo resumia-se claramente no slogan "Votar na catedral construída pelos portugueses é dar visibilidade a Olivença". O movimento ganhou também projecção ao ser elogiado por Marcelo Rebelo de Sousa no seu espaço de comentário na TVI.

O presidente da autarquia de Olivença, Bernardino Píriz, num momento em já que se previa a vitória da igreja, comentou à Lusa que a eleição acabaria por "trazer mais turistas à cidade", tornando-a uma "referência" nos guias turísticos da Repsol - o que em Espanha, acrescentava, "equivale a uma estrela do Guia Michelin". Quanto terminou o concurso, às 24h de quarta-feira, a autarquia promoveu uma noite na igreja, para os oliventinos que quisessem celebrar a eleição pudessem rever o monumento.

Já pelo prisma das associações que defendem o legado luso de Olivença, as opiniões dividem-se. Para o grupo português Amigos de Olivença, defensor da "reintegração de Olivença", a inclusão da Madalena no concurso não passou de uma "indecorosa tentativa de legitimação da ocupação do território de Olivença junto da opinião pública portuguesa". Por outro lado, a associação Além Guadiana, de objectivos "estritamente culturais", considerou o processo uma "promoção cultural e patrimonial".


A beleza da Ma(g)dalena

E como é esta igreja, exemplar precioso do manuelino e, agora, "o melhor rincón de Espanha"? Ao passearmos pela pequena vila amuralhada repleta de calçada portuguesa, basta dobrar uma esquina para com alguma surpresa nos cruzarmos com este monumento do século XVI - que dispensou uma localização demasiado isolada ou a necessidade de ser construída em cima de grandes pedestais. E para descobrir que a Ma(g)dalena é a prova de que a beleza está muito mais no que é simples.

Polémicas à parte sobre se estamos perante uma Madalena portuguesa ou uma Magdalena castelhana, a verdade é que este tempo paroquial apela à memória histórica e coloca-nos de imediato nos Descobrimentos. A estrutura de pedra cinza intercalada com paredes brancas é claramente uma obra-prima do estilo manuelino, que em alguns pormenores nos transporta para o Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa, mas numa forma muito mais simplificada e discreta, que permite criar proximidade com o local.  

É como se já aqui tivéssemos estado. Ideia que é confirmada pelos elementos marítimos que decoram as portas e janelas da igreja e pelas colunas em forma de corda no seu interior. Sobretudo no calor do Verão - ainda mais intenso nesta zona interior - a igreja torna-se num dos sítios mais agradáveis a visitar em Olivença. O fresco que se sente dentro do monumento ajuda a lembrar a brisa marítima a quem está longe do mar.

Só alguns restauros e acrescentos do século XVIII, como os trabalhos em talha dourada, contrastam com a simplicidade da igreja e dão uma tonalidade mais espanhola ao local, com excepção para os azulejos azuis e brancos que retratam cenas bíblicas e que combinam com o estereótipo de uma tradicional casa portuguesa. Uma casa portuguesa que é, sobretudo, frequentada por senhoras aperaltadas, com um "salero" que resiste à idade e que não hesitam em pronunciar bem o "g" de Magdalena.


A história 

Foi mandada construir para servir como templo do local de residência dos bispos de Ceuta. O bispado de Ceuta iniciou aqui residência em 1512, tendo sido estreada por Frei Henrique de Coimbra, confessor do rei D. Manuel e o primeiro a celebrar uma missa no Brasil. Falecido em 1532, foi sepultado no templo (existe um túmulo de mármore no local). No exterior, destacam-se falsas ameias, pináculos, gárgulas e a porta principal, com uma portada atribuída a Nicolau de Chanterene, artista que em Portugal, além de outras obras, criou a porta do Mosteiro dos Jerónimos ou um retábulo de mármore do Palácio da Pena. O interior divide-se por três naves com oito colunas que parecem evocar as amarras de um navio. Em grande destaque, os trabalhos em talha dourada do séc. XVIII, retábulos neoclássicos em mármore colorido e azulejaria.

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