Um galo gigante. Um galo de Barcelos com sete metros de altura. De dia reluzem os azulejos que o compõem, à noite brilham os leds que nele estão instalados. É assim a obra que Joana Vasconcelos preparou para as comemorações oficiais dos 450 anos da cidade do Rio de Janeiro, no Brasil. A peça, a ser exposta ao ar livre em Copacabana, vai ser inaugurada a 10 de Junho de 2015 e pelo Brasil ficará até ao final do ano. Talvez para sempre.
Joana Vasconcelos mergulha outra vez na tradição portuguesa para a transformar em qualquer outra coisa. Depois do Cacilheiro, por exemplo, que apresentou em Veneza e que circula actualmente no rio Tejo, em Lisboa, é agora a vez de o icónico Galo de Barcelos ser transformado e reinterpretado pela artista.
A ideia da artista portuguesa surgiu depois de ter sido desafiada no Brasil pelo Comité Rio450, presidido pelo diplomata Marcelo Calero, que vê em Joana Vasconcelos o “reflexo da relevância e da força artística contemporânea de Portugal”. “Estamos muito satisfeitos por este presente tão simbólico e tão cheio de significado”, disse Calero na apresentação da peça que aconteceu nesta terça-feira na Câmara Municipal de Lisboa (CML), parceira na iniciativa.
“O Galo era sem dúvida um dos ícones que eu queria trabalhar, já fazia parte da minha lista mas ainda não tinha surgido a oportunidade correcta”, diz Joana Vasconcelos, de 42 anos, aos jornalistas, explicando ter sido convidada para levar algo ao Rio de Janeiro que espelhasse de alguma forma a relação entre Portugal e Brasil num ano que se focará exactamente nas afinidades entre os dois países. A exposição da obra da artista portuguesa é só uma das muitas iniciativas que acontecerão em 2015 no Rio de Janeiro num programa que ainda não foi dado a conhecer em detalhe mas que pretende marcar os 450 da fundação da cidade.
Segundo Joana Vasconcelos, “o Galo tem tudo a ver com isto”. “Esta peça tinha de reflectir o passado e também o presente”, continua a artista, que intitulou a sua obra de Pop Galo. “No meu trabalho de pesquisa, percebi que o Galo tinha na sua cor e no seu desenho uma expressão pop que vem atravessando várias gerações e vários séculos”, conta. “Portanto, de alguma maneira olhei para o Galo e pensei como é que o podia modernizar, torná-lo mais contemporâneo e mais adaptado ao movimento, à cor e à luz do Rio de Janeiro e aí apareceu o Pop Galo e apareceram também os leds que lhe dão um ar mais tecnológico”, explica a artista, que contará com o apoio do Azeite Gallo para a execução da obra.
Com a aparência não muito diferente daquela que conhecemos no Galo de Barcelos, a novidade será que o revestimento em azulejo que preenche a superfície da obra. Depois, no lugar da decoração característica, onde habitualmente sobressai uma pintura de linhas e formas, vão estar milhares de leds coloridos. “Este é um Galo que vai ser mais tradicional de dia e que à noite vai sambar”, conta a artista.
Sem revelar valores, Joana Vasconcelos deixou apenas claro que se trata de “custos muito altos”. “É um grande esforço”, diz, contando ainda que outras empresas se poderão associar à iniciativa. “Não estamos a fazer uma exposição de arte contemporânea qualquer”, atesta a artista, que conta ainda com o apoio da CML.
António Costa também falou na apresentação, afirmando que participar nas celebrações dos 450 da fundação do Rio de Janeiro, “cidade irmã” de Lisboa, é “um enorme orgulho” para a câmara. “A redescoberta desta nossa História comum é muito inspiradora, sobretudo num momento em que as pessoas sentem descrença, desconfiança e pouca fé. Esta História mostra que sempre que, quando tudo parecia perdido, se encontrou uma solução”, disse o autarca que vê a peça de Joana Vasconcelos “quase como uma metáfora”.
“A Joana redescobre um dos maiores marcos da cultura popular”, continua António Costa, destacando a que relação entre Lisboa e o Rio já não é apenas histórica mas também “cultural e económica”.
O Pop Galo vai ser instalado na Praia do Leme, em Copacabana. Vai ser inaugurado a 10 de Junho e naquela praia carioca ficará até ao final do ano, quando terminarem as comemorações. Voltar para Portugal não parece ser opção. “Esperemos que fique, a ideia é que fique no Rio de Janeiro, talvez não naquele local mas isso agora é aquilo que se vai decidir entre os prefeitos”, diz Joana Vasconcelos.