O ano 2016 pode ser aquele em que se vai poder subir de elevador na Ponte 25 de Abril, em Lisboa. O que está a ser estudado pelas Infra-Estruturas de Portugal é um elevador que chegue aos 70 metros de altura a partir da base do pilar de Alcântara, aquele que tem gravado o nome da ponte e que neste momento está parcialmente coberto com uma publicidade.
A empresa pública Infra-Estruturas de Portugal está à procura de parceiros para o projecto, inclusive para o investimento. Há muitos contactos feitos, sabe o PÚBLICO, mas a direcção de comunicação considera prematuro adiantar pormenores sobre o projecto.
Segundo uma fonte ligada ao processo, o objectivo é “criar um pólo de atracção turística e cultural, em que o elevador seria apenas uma das vertentes”. Mas a exploração do pólo e do elevador não se adequa ao perfil das Infra-Estruturas de Portugal, cuja actividade está centrada na gestão das infra-estruturas rodoviárias e ferroviárias, por isso seriam necessários parceiros capazes de desenvolver e gerir este novo equipamento, numa colaboração entre várias entidades.
Ao que o PÚBLICO apurou, o novo pólo da ponte pode ocupar parte do terreno livre à volta do pilar de Alcântara, um espaço generoso cujo acesso, actualmente vedado, se faz pela Av. da Índia, ao lado do Hotel Vila da Galé Ópera. O núcleo contaria a história deste monumento inaugurado em 1966, a partir do lado de Almada, pelo Presidente da República, almirante Américo Tomás, o presidente do conselho, António de Oliveira Salazar, e pelo cardeal Cerejeira, patriarca de Lisboa. Nessa altura chamava-se Ponte Salazar, em homenagem ao líder da ditadura do Estado Novo, nome alterado para o actual depois da revolução de Abril.
O desejo, aliás, é que a inauguração do pólo e do elevador seja uma espécie deParabéns a você quando passarem 50 anos sobre a inauguração da ponte, a 6 de Agosto de 2016.
O elevador, que poderá subir até à altura do tabuleiro rodoviário, como mostra a fotografia manipulada a que o PÚBLICO teve acesso, “ocuparia necessariamente um espaço reduzido”, explica a mesma fonte. A hipótese mais provável é que seja implantado do lado de Belém, tentando “esbater ao máximo a sua existência na estrutura”. Desse lado, se tudo correr conforme o previsto, ficará umas poucas dezenas de metros acima do Padrão dos Descobrimentos, que sobe até aos 56 metros. Já na outra margem, partindo de uma cota mais alta, está o Cristo-Rei, cujo elevador chega aos 82 metros de altura.
Em Março deste ano, a Direcção-Geral do Património Cultural (DGPC) abriu o processo de classificação da Ponte 25 de Abril, cujo comprimento total ultrapassa os 3200 metros e tem uma altura máxima de 190,5 metros com as duas torres. No processo agora a ser analisado pela DGPC, a ponte é considerada uma das “obras de engenharia civil mais marcantes de Lisboa e, certamente, de Portugal”.
A direcção-geral, que começou a estudar o possibilidade de vir a classificar a ponte ainda em 2013, confirmou ao PÚBLICO que, no âmbito das comemorações do 50.º aniversário, recebeu para sua apreciação “um projecto para a construção de um elevador exterior num dos pilares da ponte”, projecto esse que aprovou a 15 de Janeiro deste ano.
Quanto à classificação da própria ponte, nada está ainda decidido, garante a assessora de comunicação da DGPC, Maria Resende. O procedimento está na segunda fase, que corresponde ao “estudo, análise e reflexão para fundamentar uma tomada de decisão relativamente à graduação e categoria de classificação” (é nesta fase que os técnicos decidem, por exemplo, se deverá ser considerada monumento nacional).
Dúzia de projectos
No Sistema de Informação para o Património Arquitectónico (SIPA), recentemente integrado na DGPC, escreve-se que esta “é uma ponte atirantada de tipo harpa”, suspensa, feita de ferro e aço. As duas torres sustentam os cabos, que, por sua vez, sustentam os dois tabuleiros, o superior, rodoviário, com seis vias, e o inferior, para comboios, com duas vias. Os cabos amarram-se a maciços de betão nas duas margens.
Esta foi a primeira ponte a ligar as duas margens do rio Tejo junto a Lisboa, resultado de vários projectos que foram surgindo ao longo dos séculos XIX e XX. O SIPA diz que, na altura em que foi construída, era a segunda maior ponte suspensa do mundo, sendo várias as “afinidades” com a Golden Gate de São Francisco, inaugurada em 1937. Tem a mesma arquitectura e a mesma cor.
No registo do SIPA relativo à cronologia são varíadíssimos os projectos antes da adjudicação em 1962 e vê-se como a ideia de unir as duas margens do Tejo na zona de Lisboa ocupou, durante mais de um século, a imaginação de muita gente. A primeira ideia recua até 1876, ano em que Alexander Bell pantenteou o telefone e nasceu em Portugal a Caixa Geral de Depósitos. É da autoria do engenheiro Miguel Pais, que com uma ponte semelhante à de Viana do Castelo quer ligar a zona do Grilo (Beato) à do Montijo. Doze anos depois, um engenheiro americano, chamado Lye, propõe desenhar uma ponte entre Almada e a Rua do Tesouro Velho, actual Rua António Maria Cardoso, na zona do Chiado, fazendo provavelmente uma linha em direcção ao Cais do Sodré. Em 1889, o traçado proposto por dois engenheiros franceses é mais fácil de imaginar, tendo em vista a cidade actual, e faz-se entre a Rocha Conde de Óbidos e Almada, através de uma ponte de arcadas. Várias décadas depois, em 1951, o engenheiro espanhol Peña Boeuf propõe a construção de uma ponte suspensa entre Almada e o Alto de Santa Catarina.
Mas só em 1959 será criado o Gabinete da Ponte sobre o Tejo e lançado um concurso internacional. O contrato para a execução da obra foi assinado com a United States Steel Corporation em 1961. A ponte começou a ser construída no ano seguinte e foi terminada seis meses antes do previsto no início do mês de Agosto.
Ainda não é certo que o elevador esteja pronto em Agosto de 2016, a tempo do aniversário. Muita coisa está em aberto e o decisivo agora é encontrar parceiros. Quanto ao ponto de chegada do elevador, uma varanda ao nível do tabuleiro rodoviário, é provável que não cheguem a caber dez pessoas. Tudo tem de ficar bem “escondido para não causar distracções” nos condutores.
com Lucinda Canelas