O último comboio deslizou os carris da curta linha de caminho-de-ferro do Funchal em 1943, votando ao abandono a estação do Monte, localizada a dois passos da icónica igreja sobre o anfiteatro do Funchal e da turística descida em cestos de vime. Setenta anos depois, a autarquia decidiu adquirir o edifício. Quer transformá-lo “num local de evocação histórica e de informação turística”, anuncia o autarca, Paulo Cafôfo, à agência Lusa.
O projecto implica a recuperação do edifício, em avançado estado de degradação, para devolvê-lo ao que “era originalmente”. Mas com novas funções. A ideia, avança o autarca, é criar ali uma “recepção para os milhares de turistas” que passam no Largo da Fonte, a “porta de entrada” da emblemática freguesia. “O Monte é sempre visto como a Sintra madeirense”, defende Paulo Cafôfo, considerando ser “um espaço de requinte na cidade do Funchal” e “uma das freguesias mais bonitas da Madeira”.
Ponto de chegada na subida do teleférico do Funchal, é um dos ex-líbris turísticos da ilha. Pela igreja de Nossa Senhora do Monte e a sua escadaria imensa, pela exuberância dos jardins e do parque municipal, pela descida nos tradicionais carros de cesto ou pela visita às quintas e palacetes. Mas também graças à componente histórica, relembra o autarca, já que por ali passaram figuras como o imperador Carlos da Áustria, que ali viveu e morreu. E como memória de um “transporte inédito para os madeirenses: o comboio”.
“A ideia é a pessoa entrar para ir buscar uma informação e acabar logo por esbarrar na história”, afirma. Não será um museu, porque não existe material ou acervo suficiente, mas “um núcleo interpretativo de memória”, com recurso a vídeos e imagens para “poder recriar aquilo que era um transporte utilizado no Funchal”.
O primeiro troço, com partida na zona do Pombal, foi inaugurada a 16 de Julho de 1893. Estendeu-se depois ao Monte e prolongou-se até ao Terreiro da Luta, numa extensão de quase quatro quilómetros. Mas vários incidentes e a falta de turistas na sequência da II Guerra Mundial ditaram o declínio e o encerramento da linha cinquenta anos depois. A memória do carril mantém-se inscrita no nome das estradas que galgam a encosta, entre a Rua do Comboio e o Caminho de Ferro. Em breve, haverá mais um espaço a prestar-lhe homenagem.
Além da componente de “evocação de memória histórica”, o projecto contempla ainda um pequeno auditório e uma sala de multiusos para actividades culturais e musicais. Já a antiga bilheteira vai ser transformada numa cafetaria com esplanada. O orçamento estimado ascende a 400 mil euros, embora o presidente do município afirme ainda não ter um valor global para o investimento. Só a aquisição da antiga estação custou cerca de 200 mil euros, depois de a autarquia ter chegado a acordo com os cinco herdeiros proprietários. O objectivo é “avançar com o projecto o mais rápido possível”, contando que “pelo menos no início do próximo ano isto esteja concluído”, apontou Paulo Cafôfo.
De fora do projecto fica, no entanto, a reconstrução do caminho-de-ferro do Monte, um projecto que chegou a ser pensado pelo anterior executivo municipal, liderado pelo actual presidente do governo madeirense, Miguel Albuquerque. “Não está de maneira nenhuma nos nossos planos recriar o comboio ou termos um novo”, rejeitou Paulo Cafôfo, considerando “não ser viável” economicamente. “Ficou na gaveta, esquecido”, reiterou em declarações à agência Lusa.
Para o autarca o objectivo “é a recuperação do património, conservar a memória histórica do que foi o comboio e o romantismo do Monte”.