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Martin Henrik

Castro Laboreiro e a fábrica de chocolate

Por Andreia Marques Pereira

No último fim-de-semana de Maio, a antiga fábrica de chocolate de Castro Laboreiro vai ser pretexto para um regresso ao passado com um presente muito doce. Tudo passando por locais emblemáticos do património da aldeia, com uma história milenar que se reavivará em recriações de usos e costumes.

Em 1908, num dos lugares mais improváveis do país, Castro Laboreiro (Melgaço), no planalto do mesmo nome em plena serra da Peneda, parte do Parque Nacional Peneda-Gerês (PNPG), fundava-se a Fábrica de Chocolate Caravelos.

Durante algumas décadas ganhou fama na região, em torno de Melgaço, Monção, Valença. Vendia a lojas e fazia venda directa em festas e romarias. Poucos se devem lembrar dos produtos da aventura inesperada da família Carabel, uma vez que a fábrica já deixou de funcionar há mais de 70 anos. Mas a memória dos chocolates “carabel”, como eram mais conhecidos, permaneceu e vai renascer durante o último fim-de-semana de Maio (dias 26, 27 e 28) em Castro Laboreiro. “Chocolate sem fronteiras” é o nome da iniciativa que vai fazer do passado um presente muito doce. O chocolate andará de mãos dadas com a história, usos e costumes locais, fazendo renascer a cultura e as tradições de outros tempos e sendo pretexto para (re)visitar o património tanto de Castro Laboreiro como de Melgaço.

O programa, de participação livre e gratuita, é intenso e tem início com uma bebida de boas-vindas aos participantes no centro cívico de Castro Laboreiro, seguida da projecção de excertos de filmes onde a aldeia foi protagonista – será um primeiro momento de regresso ao passado, com pessoas, lugares e vivências de outrora. Este primeiro momento termina, apropriadamente, com um chocolate quente.

No segundo dia, sábado, realizar-se-á uma caminhada até ao Castelo de Castro Laboreiro alimentada por pão com chocolate produzido especialmente para este dia. Ao longo do trilho, pequenas animações e encenações serão apresentadas pelo grupo de teatro Fora D'Horas.

Durante a tarde, a entrada na máquina do tempo, que é como quem diz, no Museu de Castro de Laboreiro, instalado na antiga fábrica de chocolate. Aqui vai conhecer-se mais da história da fábrica e depois sair-se-á para a rua para um percurso por locais com ligação a ela – como os dois moinhos à entrada da vila, agora turismo rural.

Também será recriado o jornal A Neve, que era propriedade da fábrica e onde os chocolates eram anunciados. Interregno no chocolate para uma incursão por outra tradição de antanho, a carpeada, que era a transformação da lã desde a tosquia e a lavagem até se chegar ao fio, que será recriada pelos utentes do Centro de Dia de Castro Laboreiro. No final, vão pôr-se as mãos na massa, no chocolate, perdão, num workshop de chocolate caseiro (a lembrar que a carpeada tradicional terminava com um lanche que incluía chocolate) – de referir que outros produtos da região poderão ser desfrutados numa feira que estará montada no mesmo espaço. Este dia terminará com a “Queimada galega”, vinda directamente do lado espanhol, aqui ao lado.

O último dia está destinado a uma caminhada solidária com vertente geocaching (caça ao “tesouro” com georreferenciação), a reverter para os Bombeiros Voluntários de Melgaço. 

Castro Laboreiro, inserida, como já referimos, no PNPG, tem uma longa história que lhe deixou um legado arqueológico, arquitectónico e cultural que vai desde monumentos megalíticos ao castelo (monumento nacional), igrejas e pontes medievais, fornos e moinhos comunitários, brandas e inverneiras testemunhos da atividade agro-pastoril marcada pela transumância. Aliás, tanto Castro Laboreiro como a Branda de Aveleira são candidatas às 7 Maravilhas de Portugal, na categoria de Aldeias Remotas.

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