Para muitos, os vinhos do Alentejo são a versão nacional do Novo Mundo. A região chegou tarde ao mercado e à excelência e fê-lo sem ter de pagar o ónus dos vícios nem das limitações estruturais de outras regiões do país.
Sendo uma região nova, o Alentejo pode congratular-se por ter uma estirpe de criadores como Paulo Laureano ou Luís Duarte, de cooperativas modelares como Borba, de empresas globais como a Esporão ou de empresas familiares como a Cortes de Cima, de Hans Kristian Jorgensen, que foram capazes de conferir aos vinhos da planície aquele toque distintivo que separa os grandes vinhos dos outros.
Nada que saia dos 130 hectares da Cortes de Cima pode ser considerado banal ou corrente. Na semana passada, tirámos a prova com o Chaminé, um belo tinto para a gama dos cinco euros com uma produção de 1,2 milhões de garrafas por ano. E para hoje as propostas que aqui se trazem sublinham a imagem de marca que os vinhos da família Jorgensen tem vindo a construir nos últimos anos. São vinhos elegantes, com um toque clássico, que combinam os aromas intensos dos vinhos do Alentejo com uma frescura própria, vinhos que ficam bem em qualquer mesa e em qualquer condição.
Nesta apreciação no plural há, no entanto, diferenças que vale a pena ter em conta. Porque se sob o chapéu da marca se encontra um estilo e uma atitude definidas, os monocasta revelam diferentes facetas de personalidade. O Hans Kristian Andersen, por exemplo, comprova que em Portugal há poucas empresas a fazer vinhos com a casta Syrah como a Cortes de Cima - um vinho de aromas exaltantes, voluptuoso e com uma notável frescura, que custa aproximadamente 30 euros. Depois, vale ainda a pena tentar as experiências em torno de castas tradicionais, como o Aragonês ou a Trincadeira.
Mas há ainda uma outra criação monovarietal que se recomenda vivamente: o Cortes de Cima Petit Verdot (uma casta originária de Bordéus) de 2008. É um vinho experimental (produzidas 1038 garrafas) de uma variedade que está a suscitar uma crescente vaga de adeptos nas regiões vitícolas mais quentes do planeta (e, com o aquecimento global, também em Bordéus). O seu "verdor" verifica-se na sua óptima frescura e na sua vivacidade na boca. Mas também na juventude e complexidade de aromas que sugerem frutas silvestres envoltas em toques balsâmicos. Um vinho delicado mas com carácter, elegante e sofisticado de final longo e exaltante. Aprecie-se já ou reservem-se uns exemplares para a cave, que este vinho há-de evoluir bem. M.C.