Os vinhos do Alentejo têm uma marca climática muito forte e, se por um lado isso lhes dá identidade, por outro também lhes impõe o anátema da uniformidade.
Mas, embora a região tenha uma matriz bem definida, resultante da sua planura, os vinhos alentejanos não são todos iguais. Há algumas bolsas do território que produzem vinhos distintos e personalizados.
Uma das mais fascinantes tem como epicentro Estremoz. É o solar de vinhos extraordinários como os clássicos Quinta do Carmo, agora reinventados sob o nome Dona Maria, os monumentais Quinta do Mouro, de Miguel Louro, ou os potentes e elegantes Marquês de Borba Reserva, os topo de gama de João Portugal Ramos. Destes últimos, a colheita de 2008 será, talvez, uma das melhores de sempre.
O ano foi bom em todo o país e a amenidade estival permitiu maturações lentas e correctas.
O lote é o habitual: Trincadeira, Aragonês, Alicante Bouschet e Cabernet Sauvignon. Parte do vinho foi pisado em lagares de mármore e a totalidade estagiou 12 meses em meias pipas de carvalho francês.
A prova reflecte a opção de vinificação. O vinho tem um aroma efusivo e de largo espectro, onde as evocações de compota e fruta vermelha e preta bem madura se cruzam com deliciosas e frescas sensações apimentadas.
A concentração e complexidade aromática estendem-se ao palato, onde o vinho mostra toda a sua potência, mas de forma elegante.
A extracção obtida com a pisa em lagar e o estágio em madeira deram corpo e solidez ao vinho, mas a vinificação em inox de uma parte do lote permitiu conservar os aromas primários e balancear melhor o conjunto.
O vinho causa um grande impacto em quem o bebe precisamente por aliar a potência à elegância, por ser encorpado e delicado, por ser volumoso e fresco ao mesmo tempo. A sua vocação gastronómica é formidável. Já é um grande vinho, mas tem potencial para vir a ser ainda melhor com alguns anos em garrafeira. O drama, com este tipo de vinhos, é sabermos quando chega ao auge.
Na dúvida, o melhor é bebê-lo desde já. P.G.