Paulo Laureano é um aristocrata do vinho e um dos enólogos mais prolixos do país. Faz vinhos um pouco por todo o país, ilhas incluídas, e desde 1999 que tem os seus próprios projectos. Começou em Évora, mas foi na Vidigueira que assentou arraiais e possui os vinhedos de onde sai a maior parte dos seus inúmeros vinhos.
Há cerca de uma década, Paulo Laureano assumiu que a grande diferença de Portugal no universo do vinho era a cultura do país e a diversidade das suas inúmeras castas, sem paralelo no Novo Mundo e até no Velho Mundo do vinho. Quando a aposta em castas internacionais fazia o seu percurso (e ainda faz, sobretudo nos projectos de grande dimensão), Paulo Laureano decidiu fazer da originalidade portuguesa, associada ao seu atraso, uma oportunidade. E começou a elaborar vinhos apenas com castas portuguesas. Mas foi mais longe: começou a promover isso como um trunfo, incluindo no rótulo a frase "Só castas portuguesas".
É possível que haja algum fervor nacionalista por trás desta aposta, mas, do ponto de visto do marketing, a ideia faz todo o sentido. A mundialização das grandes castas francesas tornou os vinhos cada vez mais iguais e retirou-lhes encanto e mistério.
E quando tudo se torna igual, a tendência dos espíritos menos conformistas é procurar a diferença e a originalidade, se possível associadas a um produto cultural e a uma paisagem exaltante.
Ora, Portugal, com a sua diversa paisagística e de castas, pode oferecer tudo isso. Só precisa de se promover melhor como produtor de grandes vinhos.
Paulo Laureano tem ainda a seu favor o facto de ser um bom marketeer, que sabe usar a sua própria imagem, a começar pelo seu bigode monárquico.
É a imagem de marca deste personagem singular que sabe, como ninguém, tirar partido da singularidade das nossas castas, ao ponto de ter criado um vinho a que chamou Singularis.
E é precisamente o Singularis Tinto 2008 a nossa proposta para esta semana. Lote de Trincadeira, Aragonês e Alicante Bouschet, é um vinho algo desconcertante. Parece um pouco austero de aroma, mas, não sendo exuberante, percebe-se bem a fruta vermelha, o vegetal maduro e alguma especiaria.
Mas o que sobressai são as notas iodadas, que se repetem na boca.
É, por isso, um vinho muito químico, que ao primeiro gole ganha um lastro inesperado, com taninos aveludados e doces e um bom frescor final. Não é o típico vinho alentejano, muito frutado e guloso. É mais sofisticado e sibilino e também mais fresco. Bebe-se e ninguém diria que tem 14,5% de álcool, tal é o seu equilíbrio. Bem interessante. P.G.