Na Bairrada, há uma espécie de guerra surda (às vezes, bem ruidosa) entre os puristas, aqueles que defendem a aposta exclusiva nas castas regionais, e os pragmáticos, aqueles que defendem que a modernidade da região também pode passar pelo recurso a castas estrangeiras, mais fáceis para o consumidor.
Pelo meio, há alguns produtores que fazem a ponte entre os dois campos, oscilando entre um e outro, movidos pelo desejo de fazer vinhos que se vendam mas também que respeitem um certo classicismo regional.
Carlos Campolargo é um desses produtores. Em rigor, se insistirmos na classificação, o seu campo é o dos pragmáticos.
Nas vinhas da família, as castas nacionais convivem alegremente com inúmeras castas estrangeiras e muitos dos seus vinhos reflectem essa associação. Mas, bem vistas as coisas, Campolargo é também um dos produtores que mais tem trabalhado pela valorização das grandes castas bairradinas, em particular da Baga (tinto) e da Bical (branco). A alguns vinhos de maior volume, aquele produtor tem juntado outros que se podem considerar de garagem, alguns feitos só com castas regionais.
Esses vinhos acabam, assim, por funcionar como bandeiras da casa e até da própria região.
Mas, mesmo nestes casos, Campolargo não abdica de alguma dose de pragmatismo. Em vez de fazer vinhos difíceis que precisam de mais de uma década em garrafa para ficarem bebíveis, prefere a via do clássico moderno. Ou seja, faz vinhos que podem ser consumidos desde já. Claro que a aposta não lhe traz grandes pontuações das revistas da especialidade, mas tem o mérito de abrir os vinhos da Bairrada a um número maior de consumidores.
Um vinho que ilustra bem a política Campolargo é este Baga 2008. Foram cheias pouco mais de duas mil garrafas. O vinho foi macerado em lagares de inox e fermentou e estagiou em madeira usada. No aroma, muito cativante, tem a frescura vegetal e a fruta vermelha madura típicas da casta.
Na prova de boca, não tem a dureza tânica que se associa aos Baga clássicos. É um vinho que segue a linha da elegância, de corpo médio mas envolvente, com taninos macios e doces e bastante fresco.
Perfeito no equilíbrio entre o álcool e a acidez, é um daqueles vinhos de que toda a gente gosta. Está prontíssimo a beber e a fazer um figuraço à mesa. P.G.