Os rótulos de cortiça fazem há muito parte da mais importante linhagem de vinhos produzidos na Adega de Borba. Desde 1964 até à edição de 2007 muito mudou nos vinhedos da região - e no mundo.
O Alentejo deixou definitivamente de ser um parceiro menor no mercado dos vinhos nacionais e, pelo contrário, passou a dominá-lo de uma forma quase hegemónica (mais de 40 por cento); uma nova geração de produtores e enólogos soube explorar a vocação dos seus vinhos para satisfazer as modas do consumo que prevaleceram nos últimos 10 ou 15 anos, apostando decididamente na extracção, na doçura natural, na madeira e no álcool; e a Adega de Borba, que comercializa anualmente nove milhões de litros de vinho por ano entrou no ranking das dez maiores empresas nacionais do sector.
O que hoje se nota na região, e os dirigentes e a equipa de enologia da cooperativa de Borba não fugiram ao debate, é uma certa tentativa de afastar a noção de que o Alentejo é o lugar onde se produz uma commoditie padronizada e insusceptível de causar surpresas.
Há neste debate de bastidores um risco e uma oportunidade.
O risco é o de o Alentejo poder pôr em causa um estilo de vinhos que lhe garantiu o sucesso actual.
A oportunidade consiste em mostrar que a diversidade dos vinhos regionais é tão possível de descobrir ou de concretizar como a de qualquer outra região.
Este Borba que, pela primeira vez, ostenta a designação de Grande Reserva, é a prova de que a região pode fazer vinhos nos quais a subtileza se sobrepõe à intensidade esmagadora da fruta, nos quais a elegância ganha ao volume avassalador de doçura e de aromas primários. Vinhos nos quais um certo classicismo se impõe à moda. Este é um vinho surpreendentemente fresco e mineral, com taninos envolventes, austero, seco e elegante, bem balanceado em todas as suas componentes. Um vinho inebriante que foge ao óbvio e exige atenção aos detalhes. E que tem ainda um bom futuro pela frente.
Manuel Carvalho
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