Noval e Romaneira são duas quintas durienses e duas marcas distintas, mas são geograficamente próximas e têm responsáveis comuns por trás. Seriam de esperar algumas semelhanças nos respectivos vinhos, e elas existem, a começar pela elegância e equilíbrio que demonstram.
Porém, ambas têm a sua própria identidade. Comparando apenas os respectivos tintos de mesa topo de gama, os vinhos da Quinta da Romaneira, face à exposição das vinhas (sudeste), são mais frescos e menos alcoólicos do que os da Quinta do Noval (oeste).
A colheita de 2007 expôs bem essas diferenças e, na nossa opinião, o Quinta da Romaneira Reserva era até mais excitante do que o Noval. A colheita de 2008 segue na mesma linha. O primeiro é mais resinoso e menos alcoólico. Só que, desta vez, ponderados todos os outros componentes do vinho, o Romaneira perde claramente para o Noval. E perde no essencial: na estrutura do vinho. Embora mais fresco e tão ou mais exuberante na vertente frutada do aroma, o Quinta da Romaneira Reserva 2008 tem um esqueleto tânico e fenólico mais débil do que o Quinta do Noval. Por outros palavras, é menos poderoso.
Relativizemos: o Romaneira não deixa de ser um belo vinho. O Noval 2008 é que é muito bom. É um vinho que respeita a matriz dos seus afamados vintages: potentes e elegantes, sibilinos e complexos.
Refl ectem a natureza montanhosa e selvagem do Douro, mas com classe e estilo, sem rudezas. Por vezes, até parecem demasiado simples. Mas são muito mais ricos e intrigantes do que se imagina. Precisam de ser estudados. São vinhos que já nascem bem, sem precisarem do cinzel do tempo para fi carem bons e correctos.
Quando se bebe o Quinta do Noval 2008, a palavra que nos ocorre é: perfeição. Nos vinhos, como noutra área qualquer, perfeição não é um defeito, como às vezes se lê por aí. Significa simplesmente "primor, mestria, requinte, beleza", para citarmos o Dicionário da Porto Editora. Não quer dizer que seja o melhor do mundo. Este é um vinho que tem tudo no seu lugar: aroma, sabor, estrutura, acidez. Os 14,5% de álcool podem parecer elevados, mas não se sentem, porque o vinho tem uma belíssima estrutura. Tem taninos formidáveis, potentes mas aveludados, tem fruta madura, notas químicas e de café e acidez sufi ciente. Tudo num registo elegante, altivo, profundo e de grande equilíbrio. Um vinho à altura dos grandes vintages da Noval. PG